Sexta-feira, 07 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de novembro de 2019
Um documento da ANM (Agência Nacional de Mineração) aponta que a Vale registrou problemas na barragem B1, em Brumadinho, antes do rompimento mas não repassou as informações ao órgão que regula o setor. O Jornal Hoje teve acesso ao documento que a ANM vai divulgar sobre o rompimento da barragem em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
A tragédia tem 252 mortos identificados e outros 18 ainda desaparecidos ou não identificados. Os bombeiros de Minas Gerais trabalham há quase 300 dias seguidos, sem previsão para o fim das buscas.
O parecer técnico foi aprovado pela direção da agência e aponta que a mineradora Vale deixou de informar à ANM problemas encontrados em Brumadinho meses antes do rompimento. Este documento vai ser enviado ao Ministério Público Federal e às polícias Federal e Civil de Minas Gerais.
Os técnicos da ANM analisaram toda a documentação da barragem – incluindo o plano de segurança e o plano de ação emergencial. Dentro desses dois planos estão todos os dados de segurança da barragem.
Quase oito meses antes da tragédia, no dia 6 de junho de 2018, a Vale fez uma inspeção de segurança na barragem e preencheu uma ficha com os resultados. De acordo com a ANM, a mineradora fez duas versões deste resultado.
Na versão entregue à ANM havia somente uma foto. Mostrava uma canaleta obstruída que servia para escoar água da chuva. Os fiscais dizem que o conserto de canaletas faz parte dos procedimentos de rotina e não afeta a segurança da barragem.
Mas uma outra foto que, segundo os fiscais, não foi enviada à ANM aparece nos registros internos da mineradora. Esta imagem mostra sedimentos na saída de um dos drenos da barragem. A agência afirma que a Vale deveria ter enviado esta foto porque os sedimentos podem indicar um problema mais grave.
“Nós teríamos que ficar sabendo quase que em tempo real que estava ocorrendo isso, porque aí nós teríamos somado esforços aos esforços da empresa. A presença de sedimentos na água drenada, se não combatida, ela pode evoluir para uma situação que coloca em risco a estrutura do barramento”, disse Victor Bicca, diretor da ANM.
Piezômetros
O relatório também menciona os piezômetros, que são aparelhos que medem a pressão da água na barragem. Segundo a ANM, a Vale informou que “nenhum dos instrumentos atingiu o nível de alerta ou emergência no período que antecedeu ao rompimento da estrutura”.
Mas, depois de analisar o bando de dados do plano de segurança da barragem, a agência afirma que é possível verificar que alguns instrumentos entraram em nível de alerta e/ou emergência sem que a ANM tenha sido informada.
Gráficos mostram os registros das medições desses instrumentos de agosto de 2018 até o rompimento. Para a ANM, os níveis registrados eram relevantes e deveriam ter sido reportados.