Sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 1 de dezembro de 2019
A avaliação no PT é que as resistências ao eventual retorno ao partido da ex-prefeita Marta Suplicy são contornáveis, com uma única exceção. A ex-presidente Dilma Rousseff não esquece o tom duro usado por Marta quando defendeu seu impeachment, em 2016.
Retorno
Em agosto do ano passado, Marta Suplicy anunciou na última hora que não tentaria renovar o seu mandato de senadora, se desfiliou do MDB e prometeu abandonar a vida partidária. Em carta para justificar a decisão, dizia que o sistema político estava falido e que a relação de grande parte das legendas e de parlamentares com o Executivo se dava na base do “toma lá dá cá, afrontando todos os padrões de dignidade e honradez.
Pouco menos de um ano depois, Marta admite rever a aposentadoria. Na semana passada, afirmou estar disposta a “fazer o que for necessário” para unir a centro-esquerda na eleição para a prefeitura de São Paulo no ano que vem. O necessário pode ser uma nova candidatura. Aos 74 anos, seria a quinta vez que ela entraria na disputa pelo cargo. Venceu apenas uma, em 2000, pelo PT. A ex-senadora coloca a sua mudança de posição na conta do governo do presidente Jair Bolsonaro. Alega que uma pessoa que luta pela democracia não pode ficar de fora diante de riscos provocados por “milícias partidárias” e “tentativa de aprovação do porte de armas” no Congresso.
Alguns petistas levantam a possibilidade de Marta ser a vice de uma chapa encabeçada pelo ex-deputado Gabriel Chalita, que deixou o PDT e está sem legenda. O ingresso de Chalita no PT depende de um aval de Lula para romper as resistências internas ao seu nome. Em 2016, ainda pelo PDT, ele foi vice na candidatura derrotada de Fernando Haddad à reeleição. Na dobradinha com Chalita, Marta poderia ser a vice tanto pelo PT como por outra legenda.
Além do PT, Marta também tem tido conversas com políticos do PSB e do PDT. Segundo um aliado, a ex-senadora ainda não definiu o seu caminho, nem sabe se realmente tentará uma nova candidatura. Ela aceita ser vice e afirma estar em uma “situação privilegiada” por não almejar nenhum posto. O certo, segundo esse interlocutor, é que a ex-senadora só ingressará numa chapa com força para chegar ao segundo turno.
Caso se decida pelo PT, Marta enfrentará resistência de parte das lideranças do partido. Os seus problemas dentro da sigla começaram em 2011, quando o mesmo Lula, que agora a considera melhor prefeita da história da cidade, barrou a sua candidatura em São Paulo em favor do então estreante em disputas eleitorais Fernando Haddad.
Marta não gostou de ter sido preterida e ameaçou não ajudar na campanha. Gerou constrangimento ao faltar à convenção que oficializou Haddad. Mas depois de Lula entrar em campo, aceitou o papel de cabo-eleitoral. Como prêmio, ganhou o posto de ministra da Cultura do governo Dilma Rousseff.
Dois anos depois, ainda no cargo, iniciou um movimento para que a sua chefe não disputasse a releição e o candidato fosse Lula. Chegou a promover jantares com empresários, mas o “volta Lula” não prosperou. O posicionamento a desgastou com Dilma. Em janeiro de 2015, Marta deu uma entrevista ao jornal “Estado de S. Paulo” em que atacou duramente a gestão da então presidente que acabara de ser reeleita e revelou o conteúdo de conversas privadas em que Lula criticava Dilma.
Na mesma entrevista, dizia que o então ministro Aloizio Mercadante era “inimigo” que fazia trapalhadas e o então presidente do PT, Rui Falcão, que foi o homem forte de sua gestão da prefeitura como secretário de Governo, havia “traído” o partido por não ter se engajado no volta Lula em 2014.
Num movimento classificado como “completamente errático” por um de seus aliados, Marta ingressou no MDB. Disputou a prefeitura em 2016 e ficou apenas em quatro lugar. Além disso, depois de usar o discurso anti-corrupção para deixar o PT, viu uma série de integrantes da nova sigla serem evolvidas em escândalos. O próprio presidente Michel Temer foi acusado pela Procuradoria-Geral da República de avalizar pagamentos feitos pelo empresário Joesley Batista ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Durante os três anos que se manteve no MDB, Marta nunca teve influência ou trânsito dentro da sigla. Se tivesse entrado na disputa renovar o seu mandato no Senado no ano passado, teria o constrangimento de ter como um de seus adversários, o seu ex-marido Eduardo Suplicy, que concorreu pelo PT e não se elegeu.