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Por Redação O Sul | 16 de dezembro de 2019
O risco-país brasileiro medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos foi ao menor nível em nove anos nesta segunda-feira (16). Depois de nove quedas consecutivas, o índice está em 98 pontos, menor valor desde novembro de 2010, recuo de 3% na sessão.
O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.
Em 2010, o Brasil tinha o selo de bom pagador concedido pelas agências de classificação de risco S&P, Fitch e Moody’s, outra chancela acompanhada por investidores internacionais ao decidir aplicações em países emergentes, considerados mais arriscados.
Na última quarta (11), a S&P elevou de estável para positiva a perspectiva para o rating de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil, hoje em BB- (três degraus abaixo do selo de bom pagador). No mesmo dia, o Banco Central cortou a taxa básica de juros de 5% a 4,5% ao ano, mínima histórica.
Embora preveja que a relação dívida/PIB do país deva continuar a crescer nos próximos três anos, a agência americana citou a perspectiva de melhora da posição fiscal do país, após a aprovação da reforma da Previdência e com a perspectiva de continuidade da agenda fiscal em 2020, apesar do risco de reveses continuar material.
“Essa alteração de perspectiva é positiva, mas é algo muito pequeno. Ainda temos um longo caminho até voltar a termos grau de investimento. Vemos uma melhora em dados da economia brasileira, mas muito na margem. Ainda é cedo para dizer que tivemos uma mudança estrutural a economia, precisamos de mais dados concretos”, diz Cristiane Quartaroli economista Ourinvest.
O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no terceiro trimestre deste ano veio melhor que o esperado pelo mercado: um crescimento de 0,6% em relação aos três meses anteriores.
Cristiane diz que o grau de investimento, no entanto, depende das próximas reformas, especialmente a tributária. “[O cenário] depende muito de como vão ser conduzidas as reformas, que precisam de muita articulação política e o governo está mudando de partido”, afirma.
Em novembro, o presidente Jair Bolsonaro saiu do PSL, partido pelo qual foi eleito, para tentar criar uma nova sigla, a Aliança pelo Brasil.
A economista ressalta ainda que, apesar de dados melhores, os estrangeiros não voltaram a investir no país. O ano caminha para ter o pior saldo de investimento estrangeiro na Bolsa de Valores. Até 12 de dezembro, há déficit de R$ 42 bilhões, próximo aos R$ 44,6 bilhões (valor corrigido pela inflação) que saíram da Bolsa em 2008, ano da crise financeira, saída recorde desde o início da série histórica da B3e 1996.
Apesar da forte saída de estrangeiros, o CDS recua desde junho, quando a reforma da Previdência estava em discussão na comissão especial da Câmara dos Deputados. A medida é vista como crucial para estabilizar a dívida pública, o que diminui o risco de um calote no futuro. Após o término da tramitação do projeto no Senado, no final de outubro, o risco-país acelerou a queda.
De acordo com analistas, o recuo do CDS desta segunda é fruto de um viés mais otimista no exterior e no Brasil. Na última sexta (13), China e Estados Unidos anunciaram que chegaram a um entendimento a respeito da fase 1 do acordo comercial para cessar a disputa econômica entre os países que já dura quase dois anos.
Os detalhes ainda não foram divulgados, mas a primeira etapa do acordo envolve o aumento da compra produtos agrícolas americanos por parte da China e redução, por parte dos Estados Unidos, das tarifas sobre importações chinesas.
Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, a decisão do Fed, banco central americano, na última quarta (11), de manter juros estáveis por mais tempo também contribui para a melhora global.
“O Fed deixou claro que não vai reduzir juros, mas que também não irá elevá-los. Somado a primeira fase do acordo comercial, são duas notícias que ajudam todas as economias, não só o Brasil. O mundo inteiro olha os emergentes com mais carinho agora”, diz Gonçalves.