Sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de janeiro de 2020
Autoridades japonesas emitiram nesta quinta-feira (30) mandados de prisão para um ex-soldado das forças especiais dos Estados Unidos e dois outros homens suspeitos de ajudar o ex-presidente da aliança Nissan-Renault Carlos Ghosn a fugir do Japão.
Os mandados são direcionados ao ex-soldado Michael Taylor e outros dois homens, George-Antoine Zayek e Peter Taylor, disseram os promotores em um comunicado. Também foi emitido um mandado para Ghosn por deixar ilegalmente o país, acrescentaram.
Ghosn voou do Japão para o Líbano, onde passou sua infância, no fim de 2019 enquanto aguardava julgamento por acusações de irregularidades financeiras, violação de confiança e sonegação de fundos da empresa, todas as quais ele nega.
Os mandados de prisão vieram dias após os promotores revistarem o escritório de Tóquio do ex-advogado de Ghosn.
O Líbano e o Japão têm cerca de 40 dias para decidir se o empresário será extraditado para o Japão ou julgado no Líbano, de acordo com reportagem da Reuters na semana passada.
Ambos os países não têm tratado de extradição firmado, e o Líbano não costuma entregar seus cidadãos. A equipe jurídica de Ghosn espera realizar o julgamento na nação do Oriente Médio, com a qual o ex-executivo de automóveis tem laços profundos, esperando limpar seu nome.
Entrevista
Em sua primeira aparição desde que fugiu do Japão, o ex-presidente da aliança Renault-Nissan, Carlos Ghosn, reafirmou inocência em entrevista coletiva em Beirute, no Líbano, no início de janeiro.
O brasileiro foi preso em 2018, acusado de irregularidades financeiras pela Justiça japonesa, e aguardava julgamento em prisão domiciliar até escapar de Tóquio, no fim do ano.
O encontro com jornalistas durou 2h30min, mas Ghosn não explicou como conseguiu fugir.
Ele disse que deixou o Japão porque os “princípios dos direitos humanos foram violados” com sua prisão e que a Justiça japonesa o privou de seus documentos de defesa.
“Essa (fuga) foi a decisão mais difícil da minha vida, mas eu estava enfrentando um sistema em que a taxa de condenação é de 99,4%, e acredito que esse número é muito maior para estrangeiros”, disse Ghosn.
“Fui brutalmente retirado de minha família”, completou o ex-executivo, que nasceu no Brasil, filho de libaneses, e tem cidadania libanesa e francesa.
Principais pontos:
Ghosn disse que fugiu porque foi perseguido pelas autoridades japonesas e pela Nissan;
Afirmou que seus advogados vão recorrer da ordem do alerta vermelho Interpol, para sua prisão, e que ele sabe que, por enquanto, não pode deixar o Líbano;
Ele reafirmou inocência quanto às acusações de fraude financeira, e atribuiu a perseguição à redução de desempenho da montadora, no início de 2017;
O ex-executivo revelou ainda que negociava a fusão da Nissan-Renault com a Fiat Chrysler (FCA);
Ghosn disse também que esperava mais ajuda do governo brasileiro, afirmando que o presidente Bolsonaro teria dito que não falaria com autoridades japonesas sobre seu caso, para não atrapalhar as investigações.