Terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Por Lenio Streck | 8 de fevereiro de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Li interessante artigo do economista Igor Oliveira, falando sobre o modo como os lucros da digitalização da mobilidade urbana escapam do Brasil, por conta da má regulação e da incapacidade de competirmos globalmente com software criado aqui.
Continua o autor: Hoje, além desse problema, temos outros: dependemos fortemente da demanda de trabalho desqualificado gerada por essas plataformas. Estamos trocando empregos industriais e serviços de alto valor por motoristas. Nossas cidades tornaram-se Gotham Cities, distopias nas quais você só se desloca bem se estiver em um carro preto. Se bobear, o vilão pega. Nossos governantes locais, regionais e nacionais precisam agir. É nesse contexto que o prefeito de Porto Alegre tentou um movimento politicamente precipitado, porém corajoso na essência. Ele entendeu uma coisa que muitos ainda resistem em admitir: Uber compete com transporte público. Se a população quer manter o sistema público, o governo precisa endurecer com as plataformas e subsidiar ônibus. Se há disputa entre municípios por emplacamento, precisa entrar nesse jogo. São estratégias que envolvem riscos, porém têm lógica na situação atual.
E complementa: A tendência é de que o processo político desfigure essas propostas, e que continuemos com uma política de mobilidade incoerente e decadente. Aliás, isso vai acontecer em muitas cidades brasileiras. Vamos precisar de uma estratégia nacional para lidar com o setor digital globalizado. Alguém que sente com a Uber e diga que a empresa só continua a operar no Brasil se gerar empregos qualificados e aderir a um modelo de tributação que canalize parte de suas remessas de lucros para mobilidade urbana sustentável. Alguém que libere nacionalmente as permissões de táxi, acabando com o mercado ilegal, para que taxistas possam voltar a competir, conclui.
Corretíssima a matéria. Subscrevo. Não sei por qual razão os taxistas ainda não pediram-exigiram uma desregulamentação do setor. Parece ridículo que um taxista necessite matar dois leões para poder fazer seu trabalho e o motorista do Uber apenas necessite alugar ou ter um carro e se registrar na plataforma – que, aliás, fica fora do Brasil e paga lá fora os seus impostos.
Nem sei se não caberia uma medida judicial a favor dos taxistas. O que interessa é o que Igor trouxe à baila. Uber concorre com transporte público. Logo, deve ser taxado. Ah, dirão: mas essa taxação será repassada para o usuário. Pois bem. Se o usuário quiser andar, terá que pagar. Ou reclamar e forçar o aplicativo a diminuir a sua taxa de lucro. Ou os leitores não sabem que o Uber, uma empresa de transporte sem carros, recebe um percentual (acho que de 20%) por cada “andada”? Pois que se baixe a comissão. E o município fature. Que o Brasil fature e não os EUA ou Holanda, locais em que estão as matrizes dessas plataformas, como Spotfy, Uber, EBanx (um banco que não é banco), etc. Os lucros e impostos vão para lá. Claro, com isso há menos desemprego nos EUA, etc.
Aqui, o Estado ou Município trouxas emprestam as ruas para que o “livre mercado” (estou sendo sarcástico) resolva os problemas da mobilidade urbana e a disputa com o transporte público.
Ando de Uber. Isso não quer dizer que ignore os problemas que a sua total desregulamentação acarreta. Ando de táxi e vejo que é uma categoria que desaparecerá se os próprios taxistas não se mexerem.
E só sei que uma sociedade não vive só de serviços e serviços dos serviços e derivações de derivações. Essa cadeia “produtiva” não é um universo sem fim. Para em algum lugar.
Por outro lado, também não acho desarrazoado que se cobre uma espécie de pedágio para andar em ruas centrais, como, aliás, fazem as grandes metrópoles dos países do mundo. Ou será que esse povo de Porto Alegre quer rodízio de carros? E o transporte público necessita, urgente, baixar o preço. Como fazer? Não sei. Mas a passagem a dois reais ou algo assim faria com que a cidade tivesse opções, mesmo que o metrô nunca vá chegar nestas plagas.
Mientras, continuo a andar de Uber. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não ando de táxi. Mas apoio a desregulamentação urgente. Uma coisa é uma coisa…
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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