Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 4 de abril de 2020
O deputado Thiago Duarte é médico legista, gineco-obstetra e advogado
Foto: Victor Franciscato/Divulgação* Texto de autoria do deputado estadual Dr. Thiago Duarte
Então, tudo parou. Uma força invisível fez que o mundo se recolhesse. Será uma chance para começar de novo? Para pensar diferente? Sim, acredito que sim! O que não podemos é nos distanciar da realidade que tem assolado países do mundo inteiro, acreditando que só o grupo de risco morre de Coronavírus e “o grupo do outro não é o meu”. Isto é um erro!
O Coronavírus mata gente como a gente! Idosos, moradores de periferia, dependentes de álcool, fumantes, diabéticos, pacientes com câncer, entre outros. Vejam! Os casos de óbitos entre idosos e vulneráveis significa um determinado percentual. Porém, na prática, qualquer um pode infectar-se, como tem ocorrido no RS e em todos os estados do país. As internações no RJ, por exemplo, mostram que a faixa etária mais acometida hoje é entre 30 – 39 anos. Não estamos diante de uma “gripezinha” ou “resfriadozinho”! A doença que o vírus causa é aguda para 15% a 20% dos infectados, necessitando de internação hospitalar e uma parte considerável deles precisa ser entubado e cuidados de UTI.
As medidas restritivas impostas pelo Governo do Estado do RS e pela Prefeitura de Porto Alegre estão corretas. A única vacina que temos, nesse momento, é a reclusão social. Maior exemplo de que estamos no caminho certo foi o anúncio feito pelo presidente Donald Trump de que o distanciamento social se estenderá até 30 de abril. Logo Trump que, até há alguns dias, demonstrava mais preocupação com a economia do que com a saúde da população.
Além das medidas restritivas, é essencial também equipar as unidades de saúde. Em Porto Alegre, por exemplo, é necessário e urgente abrir os leitos de UTI e de retaguarda, hoje fechados, nos hospitais Beneficência Portuguesa, Álvaro Alvin e Parque Belém. Já a cidade de Canoas anunciou, neste domingo, que até o fim desta semana o município estará com cerca de 950 leitos disponíveis em hospitais, UPA’s e hospitais de campanha. Exemplos assim devem ser seguidos por municípios de todo o Estado.
O que não pode ser proposto, neste momento, é o encurtamento da quarentena sob argumentos de redução de convulsões sociais, fome, quebra-quebras, entre outros problemas decorrentes da debilidade econômica, pois isto revela preconceito e pouco conhecimento da realidade do povo brasileiro, principalmente, das comunidades periféricas. Aliás, nestas comunidades existe mais solidariedade do que em outros bairros, pois olhar para o outro com empatia faz parte do dia a dia de quem sustenta a família com recursos escassos.
O momento é de NÃO nos desmobilizarmos. As medidas mitigatórias, como o cerceamento da circulação de pessoas, deverão ser reduzidas na medida em que a pandemia diminuir. Mas o que não pode acontecer é sobrecarregar o sistema de saúde e corrermos o risco de um grande número de infectados, ao mesmo, tempo necessitar de mais leitos. Esse seria o pior cenário, colapsando o sistema de saúde, e aí sim, parando o país em todas as suas esferas.
Fiquemos atentos também a mentiras propagadas, incessantemente, através de mensagens em redes sociais, de que as mortes não teriam custo ou de que seriam uma decorrência natural que já acontece a partir de outras doenças. O custo social e econômico das mortes é alto e não podemos, numa conta mal feita, empilhar cadáveres na esperança de salvar a economia. Essas mortes não têm só um custo social e afetivo, elas têm também um custo econômico.
A economia pode enfrentar uma situação muito mais grave se relaxarmos nas medidas adotadas até então, como querem alguns, num ato sem base científica e epidemiológica. Com o número crescente de mortes teremos que radicalizar ainda mais nas medidas, como fizeram algumas nações. O mais sensato é mantermos as restrições. Em meados de abril, poderemos reavaliar o cenário e, gradativamente, com responsabilidade e ciência, retomarmos nossas atividades.