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Por Redação O Sul | 25 de abril de 2020
A modelo Nathália Kihara Eugênio com o filho Lucca: quarentena na Lombardia, na Itália.
Foto: Reprodução/Arquivo pessoalEste mês de abril no Japão está sendo o primeiro que a brasileira Cristina Kiyono está vendo parques vazios durante a florada das cerejeiras, um dos símbolos nacionais do país. O motivo? A pandemia de coronavírus que assola o mundo.
Desde que escolheu a terra de seus antepassados para morar e trabalhar, há mais de dois anos, a operária nunca tinha visto o governo japonês proibir os tradicionais piqueniques embaixo das árvores de sakura.
Mas a determinação de esvaziar o hanami, nome que o festival recebe no Japão, foi uma das medidas adotadas pelas autoridades orientais para evitar aglomerações de pessoas. E, desse modo, tentar conter o avanço do vírus no arquipélago.
“Esse ano está proibido de fazer o piquenique justamente para não juntar todo mundo”, fala Cristina, de 44 anos de idade, os três últimos deles vivendo em Echizen, na província de Fukui. No Nishiyama Koen, parque da cidade vizinha de Sabae, por exemplo, os piqueniques tradicionalmene disputados deram lugar a um vazio, com menos pessoas passeando pelo local.
Abril está sendo o mês mais crítico da pandemia de Covid-19 no Japão. Diante do crescimento de mortes e casos no país, o primeiro-ministro Shinzo Abe declarou estado de emergência no último dia 7 de abril. Até quinta-feira (23), eram mais de 11.500 casos confirmados e quase 300 mortes.
O estado de emergência não permite às autoridades japonesas impor um confinamento restrito como em outros países, mas oferece aos governadores regionais a possibilidade de insistir para que a população permaneça em casa e determinar o fechamento temporário dos estabelecimentos comerciais não essenciais.
Sob estado de emergência, bares, cassinos, cinemas, colégios, museus e parques de diversões podem ser suspensos temporariamente.
Cristina, que tem o apelido de Tijuro, continua trabalhando na empresa, uma fábrica de componentes eletrônicos, para onde vai usando máscara, toalha e álcool em gel.
Nascida em Campinas, interior de São Paulo, ela é uma das inúmeras pessoas que deixaram o estado e o Brasil em busca de seus sonhos em outros países. E agora tem de lidar longe da família, do outro lado do mundo, com uma doença que se espalhou rapidamente pelo planeta.
“85% da população [japonesa] obedecem a quarentena”, diz Tijuro, que conta com a ajuda da comunidade de brasileiros em Echizen, que se correspondem trocando informações.
Estados Unidos
Os Estados Unidos são atualmente o país com o maior número de óbitos e de doentes no mundo. Até a última sexta-feira (24), foram contabilizados mais de 870 mil casos confirmados de coronavírus e mais de 50 mil mortes.
É diante desse cenário assustador que o casal Rogério e Marília Negrão relata que medidas está tomando para se proteger com os filhos, um adolescente e um menino.
O executivo de 46 anos e a advogada de 45 moram em Troy, no estado do Michigan. Segundo eles, uma das regiões mais atingidas pelo coronavírus.
“A gente está procurando sempre sair de máscara”, diz Rogério, que procura, juntamente com a mulher, estabelecer atividades que possam devolver um pouco da rotina que tinham antes da pandemia. “Incluir também sempre um exercício, uma caminhada, andar de skate e bicicleta, que acho que é muito importante durante esse período de quarentena”, fala Marília, que há sete anos deixou São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, com o marido e as filhas.
México
O irmão de Rogério, o diretor Fábio Negrão, de 49 anos, mora com a mulher e as filhas na capital do México. O país declarou emergência de saúde em razão da propagação da doença no final de março, quando tinha 1.094 infectados e 28 mortes.
“A gente está com a percepção de que o número de infectados no México é muito maior do que o divulgado”, diz Fábio, que também busca manter o isolamento social juntamente com a família.
O contato com amigos brasileiros que moram na Cidade do México é feito somente pela internet, por aplicativo de celular, enviando fotos, escrevendo frases motivacionais e remetendo arquivos anexados nas conversas com memórias dos tempos anteriores ao isolamento social.
Itália
Amigo de Cristina, que está no Japão, o também campineiro Marcelo Nascimento seguiu outra rota e foi para Itália. Casado com uma italiana, o fruteiro de 42 anos mora em Mestre, na província de Veneza.
Para ir à quitanda onde vende frutas, ele acorda de madrugada e é obrigado a levar um documento que o autoriza a sair do apartamento para trabalhar.
“Um cliente meu, idoso, morreu por causa da Covid-19”, lamenta Marcelo. A Itália é um dos países que tem mais vítimas fatais por causa da doença no mundo.
Até esta quarta-feira (22), o total de mortos era de mais de 25 mil. O total de casos confirmados oficialmente, desde o início da pandemia, era 189.973 _o terceiro maior número global, atrás de Estados Unidos e Espanha.
Mas algumas notícias como a recuperação de idosos centenários que estavam doentes ou até mesmo recados deixados na vizinhança animam o brasileiro e lhe dão esperança de que essa situação alarmante irá passar.
“É um costume aqui deixarem cartazes com mensagens, como ‘tudo vai ficar bem’”, conta Marcelo.
Ainda na Itália, a modelo Nathália Kihara Eugênio, 33 anos, que mora em Como, na região da Lombardia, fala que o governo obriga os moradores a usarem máscaras e luvas quando tiverem de sair de casa para comprarem alimentos ou trabalharem.
Após isso, policiais usam drones para monitorar se os destinos dos habitantes serão mesmo aqueles ditos antes às autoridades.
“No começo parecia um filme de ficção cientifica, mas nos acostumamos com eles, é a tecnologia nos ajudando”, revela Nathália sobre o uso de drones para vigiar moradores na cidade onde mora na Itália.
Segundo ela, quem for infectado não pode ficar na rua: tem de ficar em quarentena ou se internar num hospital.
“Se por acaso você tiver o vírus, tem de pagar uma multa que pode chegar a 3 mil euros [equivalente a quase R$ 17 mil] e mais três meses de reclusão”, falou a modelo. Ela conta que se surpreendeu com o número de mortos que viu. “Uma coisa que me marcou muito foi ver vários caminhões do exército carregando uma grande quantidade de corpos. Foi um verdadeiro choque de conscientização.”
A ex-BBB Itália, Fabiana Britto, 31 anos, mora há sete anos em Milão. Para ela, a chegada do verão tornou mais difícil o isolamento social.
“Estou desde 20 de fevereiro sem sair de casa. Eu não aguento mais. Quando começou a quarentena estava frio, mas agora está super calor, os dias estão lindos e a gente dentro de casa”, diz.
No final de março, o prefeito de Milão, Giuseppe Sala, admitiu ter errado ao apoiar a campanha “Milão não para”, que pedia que a cidade não paralisasse suas atividades no início da pandemia de coronavírus na Itália.
Inglaterra
Ainda na Europa, mas precisamente na Inglaterra, o fashionista Israel Cassol, 38, conta que o governo britânico adotou um aplicativo chamado C-19.
“Caso você responda que não está bem, você vai respondendo outras perguntas até que em dado momento eles enviam alguém na sua casa para te buscar e fazer o teste final no hospital”, relata o brasileiro que mora em Londres.
Segundo levantamento feito no Reino Unido, 51% das pessoas que são internadas em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) morrem em razão da doença.
Até terça-feira (21), 17.337 pessoas morreram no Reino Unido por causa da Covid-19. O número de pessoas infectadas era 114.217 até o último sábado (18).
Áustria
Em Voralberg, na Áustria, o tradutor e intérprete Felipe Simon, 38, conta que os clientes só entram no mercado usando máscara, que o próprio estabelecimento fornece, e cada pessoa deve usar um carrinho de compras individual, mesmo se estiver junto. Tudo por conta do coronavírus.
“As pessoas parecem ter consciência do isolamento e de manter distância uma das outras”, fala Felipe. “As ruas não estão completamente desertas, mas considerando que é primavera e que essa região em uma situação normal estaria abarrotada de gente na rua, está tudo bem vazio sim.”
O governo austríaco anunciou nestes mês que planeja suspender de maneira progressiva as restrições em vigor para lutar contra o vírus. Até o dia 6 de abril, o país de 8,8 milhões de habitantes, registrava 12.058 infecções confirmadas, com 204 mortes.