Um dos principais setores a sofrer com a questão foi o de vendas de automóveis, que teve uma queda de 80% no País na primeira quinzena de abril, segundo dados da Fenabrave.
No entanto, se o cenário parece sombrio com esses resultados, o fato é que há uma luz no fim do túnel para o setor, especialmente se olharmos para os resultados da China.
O país asiático, que teve uma das mais ferrenhas quarentenas dentre todos os países para o enfrentamento da crise do coronavírus até o momento, chegou a registrar 99% das suas concessionárias fechadas durante o período.
Esse cenário, por exemplo, manteve-se até o começo de abril, ou seja: há menos de um mês praticamente todas as concessionárias chinesas estavam de portas fechadas.
No entanto, conforme a situação melhorou no país e as empresas voltaram a abrir as portas de maneira controlada, os negócios voltaram também.
Atualmente, o mercado chinês já retomou 66% da sua movimentação após abrir as portas, ou seja: dois terços do fluxo normal do movimento de vendas de carros do país já retornou, assim que as empresas retomaram o ritmo de trabalho.
Isso é um sinal positivo para o mercado brasileiro. Pelo menos é o que acreditam os especialistas da NoxCar, uma das maiores concessionárias de usados e seminovos de Florianópolis (SC).
“O fechamento no mercado chinês foi muito mais rígido do que o mercado brasileiro. Mesmo assim, quando as empresas puderam voltar ao trabalho, os resultados surgiram rapidamente. Isso indica que o cenário pode acontecer no Brasil também”, revela o especialista.
Um dos motivos que faz com que o cenário possa ser bom no Brasil é o fato de que o contexto já estava ajudando o setor de vendas automobilísticas no País.
“Em 2019, tivemos um crescimento significativo de venda de carros no País. Em 2020, apesar de começar com um janeiro e um fevereiro abaixo do mesmo período do ano passado, em março estávamos com vendas boas antes dessa crise. Por isso, o ano estava sendo considerado positivo”, explica o especialista.
Além do ritmo que já estava aquecido, o fato é que o contexto ajudava a venda de carros no Brasil, especialmente via financiamento. Isso por causa da queda histórica da Taxa Selic.
“A Selic é a taxa de juros básica da economia nacional. Se ela sobe, a tendência é que todas as outras taxas subam. Se ela desce, também ocorre a queda nas demais. Como ela estava na mínima histórica, o cenário era muito positivo para o financiamento de carros, o que incentivava o público a consumir e comprar um novo automóvel”, revela o especialista.
Como a perspectiva é de que a Selic caia novamente no próximo encontro do Copom como método para combater o coronavírus, a perspectiva é que o financiamento automotivo esteja ainda mais barato no fim da crise.
“Isso deve ajudar na retomada do segmento, como já aconteceu em outras ocasiões, aliás”, acrescenta o especialista.
O especialista da NoxCar faz referência ao período de recuperação do segmento após uma crise parecida com essa, mas em 2009. Na ocasião, a epidemia do H1N1 teve um efeito negativo no mercado brasileiro, com quedas significativas em vendas.
No entanto, o governo reduziu o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e a medida impulsionou o segmento automobilístico após o fim da crise e ajudou na sua recuperação.
Ainda é cedo para saber se medidas como essa serão tomadas agora em 2020 e se terão efeito semelhante, especialmente com a Selic em baixa.
“Não dá para dizer com certeza o que vai acontecer, mas a perspectiva é otimista quando olhamos países como a China e outros que estão saindo da crise do coronavírus com bons resultados. O foco, no entanto, está em conseguir ultrapassar essa pandemia da melhor forma possível”, avisa o especialista.