Sábado, 23 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de abril de 2020
Mais de 15 mil habitantes do Rio Grande do Sul podem ter sido infectados pelo coronavírus, indicam os resultados da segunda etapa do estudo por amostragem coordenado pela UFPel (Universidade Federal de Pelotas) com outras instituições públicas e particulares para obter um panorama mais preciso da doença no Estado. Para cada caso diagnosticado, estima-se 12 sem notificação – com as margens de erro, esse número varia de cinco a 26.
Assim, se tomado como exemplo o pior cenário (26 vezes acima da estatística oficial), o verdadeiro contingente de contaminados em território gaúcho não seriam os 1.420 informados pelo boletim epidemiológico divulgado pela SES (Secretaria Estadual da Saúde) nesta quarta-feira. Em vez disso, o número real seria de 39.620 casos registrados desde a primeira confirmação, no dia 10 de março, ou cerca de 24 mil, se considerado o índice de 58% de recuperados.
Esta nova fase da pesquisa, em convênio com o governo do Estado, aplicou 4,5 mil testes durante três dias (da última sexta-feira até o domingo) em nove cidades e reflete a realidade de duas semanas atrás. “É possível calcular que, para cada 1 milhão de residentes no Rio Grande do Sul, existam 1,3 mil infectados, dos quais somente 108 foram notificados”, aponta a análise.
“Há uma parcela da população que, por não ter sintomas ou por apresentar sinais muito leves, não é testada, até porque esse não é o protocolo estabelecido, daí a diferença”, detalhou o reitor da UFPel, Pedro Rodrigues Curi Hallal. “O baixo número [de resultados positivos] também se dá porque a infecção ainda está em um estágio inicial no Estado. E o fato é que há uma alta transmissibilidade no ambiente familiar.”
A pesquisa foi apresentada nesta quarta-feira (29), durante transmissão ao vivo pela internet, com participação das secretárias Arita Bergmann (Saúde) e Leany Lemos (Planejamento, Orçamento e Gestão).
O reitor da UFPel também mencionou aspectos da pesquisa que evidenciam uma mudança no comportamento dos gaúchos para se prevenirem contra a pandemia. Dentre as constatações está a de que, entre a primeira e a segunda aplicação de testes, houve um aumento significativo das pessoas que passaram a sair de casa diariamente: se antes o índice era de 20,6%, agora subiu para 28,3%.
Da mesma forma, o contingente de pessoas que declaram sair apenas para as necessidades essenciais caiu de 58,3% para 53,4% dos entrevistados. Um recuo semelhante ocorreu entre aqueles que disseram cumprir o isolamento total – de 21,1%, eles passaram para 18,3%.
Letalidade
A pesquisa trouxe a primeira estimativa de letalidade da Covid-19 em território gaúcho. Se o cálculo for baseado nos casos notificados 49 óbitos para 1.350 casos confirmados até o dia 28 de abril, a taxa de óbitos é de 3,6%. Ou seja: a cada 100 pessoas que contraem o vírus, três a quatro não resistem.
Mas se o cálculo considerar o total de casos estimado pela pesquisa, de 15.066, e o número de óbitos confirmados for mesmo de 49 casos, a estimativa fica em 0,33%. Ou seja, seriam três perdas humanas para cada mil infectados. Trata-se de uma questão proporcional, levando-se em conta o fato de que um caso de infecção pode ficar de fora da estatística, mas dificilmente uma morte pela doença passará despercebida.
A letalidade, porém, varia muito conforme a faixa etária, sendo significativamente mais alta entre idosos. “Mesmo com a ocorrência de óbitos relativamente reduzida [no quadro geral], trata-se de algo relevante e que de maneira alguma significa um sinal-verde para o retorno imediato da sociedade aos parâmetros de convivência anteriores à pandemia”, advertiu Hallal. “Isso vai demorar muito tempo para acontecer.”
Engajamento
Além da UFPel, a pesquisa mobilizou a UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre), Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), Unisc (Universidade de Santa Cruz do Sul), Unijuí (Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul), UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), Unipampa (Universidade Federal do Pampa), UCS (Universidade de Caxias do Sul), Imed Passo Fundo, UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul), UPF (Universidade de Passo Fundo) e Universidade La Salle (Unilasalle).
O custo informado é de R$ 1,5 milhão, com apoio da Unimed, Instituto Cultural Floresta e Instituto Serrapilheira (Rio de Janeiro). Já o Ministério da Saúde enviou 20 mil kits para viabilizar a aplicação dos testes e já programa replicar o mesmo estudo no restante do País. A próxima etapa está prevista para ocorrer entre os dias 9 e 11 de maio.
(Marcello Campos)
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