Terça-feira, 19 de novembro de 2024
Por Cláudia Fam Carvalho | 19 de maio de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Nesse momento, me parece que a ciência tem pouco a nos auxiliar no seu sentido clássico de ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos, pois os mesmos ainda estão em andamento. Mesmo resultados favoráveis ou desfavoráveis a qualquer medicação ainda são resultados preliminares e não certezas absolutas, seja ela hidroxicloroquina, remdesivir, azitromicina, ivermectina, interferon, heparina, ou qualquer outra possibilidade de tratamento felizmente aventada. O que mais precisamos agora é força de trabalho, gerenciamento, expertise de médicos e trabalhadores da linha de frente. Precisamos de um trabalho, sim, baseado na ciência, em conhecimentos prévios e nas observações das manifestações da nova covid-19 dentro do cérebro de cada cientista em potencial que está de cara com ela.
Os médicos intensivistas e clínicos que se deparam todos os dias com doentes tem consigo uma bagagem científica extensa e usam suas capacidades para tomarem condutas arrazoadas para os melhores resultados dos seus pacientes. Isso não é novidade para nós médicos, que tomamos decisões todos os dias diante de um leque de opções cientificamente justificáveis. Nesse momento, a opinião de especialista ainda é o melhor nível de evidência disponível e há quem diga que a medicina é arte, como Hipócrates, visão com a qual me identifico por diversas razões.
Os fatos tem nos mostrado que qualquer tentativa da ciência, seja na busca de tratamentos comprovados ou seja na busca de previsões nos cálculos de projeção matemática, está falhando.
A Covid-19 é uma doença nova e a ciência de hoje não tem como precisar o quanto, como e quando irá afetar os diferentes lugares do mundo. Fatores inesperados como possível imunidade pela vacina BCG (tuberculose), por exemplo, não teriam como serem imaginados.
Estamos vendo as projeções de casos errarem muito aqui no Brasil e a espera do pico virou até motivo de chacota. Hoje li que os cientistas mudaram de opinião e não esperam mais um pico, mas sim um platô de número de casos em SP e mesmo assim, com previsões catastróficas. Fico me perguntando a quem serve esse tipo de matéria, qual é a relevância científica dela e não consigo responder. A ciência é usada para dar mais fidedignidade para uma impressão, suposição de alguém, presunção essa perigosíssima porque gera medo na população e esse sim tem consequências catastróficas, as quais estão escancaradas, como abandono de tratamento de doenças crônicas, desemprego e fome. Essas não são presunções. Infelizmente são realidade.
Este vírus deixa evidente que temos que ter mais do que tudo humildade, mente aberta, flexibilidade para novas possibilidades.
Não vamos deixar que o rigor científico nos paralise e sirva como impedimento para melhor atender nossos pacientes ou pior, ainda, que sirva para disputas políticas que nada tem a ver com ciência e benevolência.
Cláudia Fam Carvalho
Médica Psiquiatra e Psicoterapeuta
Membro associado APRS e CELG
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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