Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 13 de junho de 2020
Nasceu na última sexta-feira (12) o segundo filho de Li Wenliang, médico chinês que alertou o mundo sobre a disseminação do novo coronavírus, e de Fu Xuejie. O parto aconteceu em um hospital de Wuhan, primeiro epicentro de contaminação da doença no mundo, e local onde a família mora.
Li era oftalmologista e foi uma das oito pessoas presas pela polícia por “espalhar rumores” sobre o coronavírus, quando falou a outros colegas ainda em dezembro de 2019, antes do reconhecimento oficial da patologia. Em fevereiro, ele foi infectado pela doença e morreu aos 33 anos, no dia 7 do mesmo mês.
Na época, o médico já tinha um filho de cinco anos com Fu Xuejie, que estava grávida do segundo bebê. Segundo a rede de notícias local Litchi News, ela e a criança passam bem. No aplicativo de mensagens WeChat, Fu publicou uma foto do menino e declarou que era o “presente final” de Li.
“Marido, você consegue ver isso do céu? Você me deu o seu presente final hoje. É claro que vou amá-lo e protegê-lo”, disse na mensagem.
Em entrevista, Fu afirmou que, após a morte do marido, ela sofreu de vários problemas de saúde gerados pelo luto e precisou ser hospitalizada para manter a saúde do bebê preservada durante a etapa final da gestação. Ela descreveu o médico como um médico responsável e amável, e disse que a família escondeu a morte de Li de seu outro filho, dizendo que ele teria viajado.
A foto do bebê viralizou na rede social Weibo, com milhares de felicitações. Em poucas horas, mais de 8.8 milhões de pessoas já haviam lido a publicação. Nos comentários, um usuário escreveu: “Ver essa notícia me fez chorar”, e outro complementou: “Quando ele crescer, diga que o pai dele foi um herói”.
A morte de Li Wenliang, em fevereiro, provocou uma onda de revolta e luto na China pela forma como as autoridades estavam omitindo e menosprezando a disseminação do vírus, alertada pelo médico. Em entrevista antes de morrer, Li defendeu a liberdade de expressão e afirmou que deveria haver mais de uma voz em uma sociedade saudável.
Acusado de espalhar notícias falsas sobre a existência do vírus, Li foi obrigado a escrever uma carta se auto criticando, entregue ao seu chefe. No texto, ele comparou o seu comportamento à constituição do Partido Comunista, aos regulamentos e ao espírito de uma série de discursos dos líderes do partido. Ele prometeu “manter a linha de pensamento e ação com o Comitê Central do partido”.
Após a morte do médico, o governo chinês instaurou uma investigação sobre o caso e em março se desculpou com a família. Em um relatório, autoridades assumem que a polícia local agiu “inapropriadamente e falhou ao não seguir os procedimentos estabelecidos na lei”. No mês de abril, Li e outros 13 profissionais que trabalharam na linha de frente na luta contra o coronavírus foram considerados mártires, a maior honraria concedida para cidadãos chineses que sacrificaram suas vidas pelo país.
Apesar da censura do governo em publicações sobre a morte de Li, o perfil dele na rede social Weibo se tornou uma espécie de mural de homenagens, onde outros usuários lembram sua vida e os avisos sobre a Covid-19.