Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de junho de 2020
Uma cidade no Leste da China está se preparando para lançar um banco de dados que vai permitir que pessoas que planejam se casar verifiquem se seu futuro parceiro tem um histórico de violência doméstica.
O governo de Yiwu, na província de Zhejiang, disse que a ferramenta vai incluir informações sobre agressores condenados em toda a China, bem como sobre aqueles sujeitos a ordens de restrição ou detenção desde 2017, além de dados sobre pessoas acusadas de violência doméstica por seus parceiros, idosos ou outros familiares.
A iniciativa, que a Federação Chinesa de Mulheres afirma ser inédita no país, seria atualizada em tempo real e tem previsão de lançamento para o dia 1º de julho.
“Em muitos casos, as partes envolvidas só conhecem a violência doméstica após o casamento. Ao estabelecer um banco de dados de consultas, os parceiros podem saber com antecedência e decidir se se casam ou não”, disse Zhou Danying, vice-presidente da Federação das Mulheres de Yiwu, um dos órgãos governamentais envolvidos no programa, ao The Paper, um site de notícias de Xangai. “O objetivo é prevenir e reduzir a probabilidade de violência doméstica.”
A China, como outros países, há muito tempo enfrenta a violência doméstica, e a pandemia de coronavírus agrava o problema. Com milhões de pessoas confinadas em casa, a polícia diz ter visto um aumento nos casos de homens abusando de suas parceiras, segundo o site de notícias Sixth Tone.
No Brasil, o número de denúncias de violência doméstica registradas no Ligue 180, canal de atendimento do governo federal, cresceu 38% somente no mês de abril, em comparação com o mesmo período do ano passado. Já os números de feminicídios — assassinatos de mulheres motivados pelo seu gênero — subiram 22% na pandemia.
Em abril, as Nações Unidas pediram ações urgentes para combater o aumento mundial da violência doméstica em meio à pandemia. “Peço a todos os governos que coloquem a segurança das mulheres em primeiro lugar ao responder à pandemia”, escreveu o secretário-geral António Guterres, no Twitter.
Embora a China tenha aprovado uma lei de combate à violência doméstica no país em 2016, mulheres dizem que as medidas protetivas de afastamento e as ordens de restrição, que são impostas pela lei, raramente são postas em prática.
Uma pesquisa realizada pela Federação das Mulheres da China em 2011 mostrou que uma em cada quatro mulheres sofreu espancamentos, abuso verbal ou teve suas liberdades restringidas por seu parceiro. As mulheres relataram que a polícia muitas vezes descarta seus relatos de violência doméstica como um assunto privado e diz aos casais que simplesmente resolvam as coisas.
Nas mídias sociais, muitos chineses endossaram o novo banco de dados do governo de Yiwu. Lei Ming, um advogado, pediu que ela fosse lançada em todo o país: “Para futuros casamentos ou encontros às cegas, mostre a prova de um registro zero de violência doméstica”, disse na plataforma de mídia social chinesa Weibo.