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Por Redação O Sul | 27 de junho de 2020
Verba escassa força pesquisadores a fazerem vaquinha.
Foto: Reprodução/TV BrasilNo mundo científico, há um consenso: a crise só vai acabar de fato quando houver vacina. Mas no Brasil, a verba, de tão escassa, força pesquisadores a fazerem vaquinha e tirarem dinheiro do próprio bolso para investigar. Após ter seu projeto negado no edital do governo voltado para o novo coronavírus, o professor e pesquisador Heitor Evangelista decidiu fazer sua pesquisa por conta própria.
O projeto tinha como objetivo o monitoramento de carga viral em locais de grande circulação. E, segundo o professor e pesquisador do departamento de Biofísica e Biometria da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), poderia trazer uma forma de monitorar o quanto um grupo populacional está contaminado sem precisar fazer testes individuais, escassos no Brasil.
Quando a crise do coronavírus se tornou global, vários países lançaram pacotes de ajuda econômica e, dentro deles, de investimento em ciência e pesquisa para a busca de soluções relacionadas à pandemia.
O Brasil também lançou seus editais para pesquisa científica na área, mas, conforme mostra um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o valor é pequeno, mesmo quando comparado com o próprio orçamento do país para o setor. Isso faz com que os cientistas como Evangelista peregrinem para conseguir mais verba ou até toquem projetos com dinheiro do próprio bolso.
Os Estados Unidos, por exemplo, destinaram 6,1 bilhões de dólares adicionais para pesquisas relacionadas ao novo coronavírus, verba extra, ou seja, além do que já era previsto para a ciência neste ano. A cifra equivale a 4,1% do orçamento total americano para o setor.
Na Alemanha, um orçamento suplementar prevê o equivalente a 2,34 bilhões de dólares para pesquisa e inovação especificamente para tratamentos da covid-19, equivalente a 6,3% do orçamento total do país para pesquisa.
Já no Brasil, segundo o Ipea, foram disponibilizados 470 milhões de reais (ou 100 milhões de dólares) para pesquisa e inovação no combate à doença. O valor corresponde a 1,8% do orçamento para pesquisa do país. O levantamento do Ipea levou em consideração apenas verba federal para todos os países.
“Você tem os países se mobilizando para investir em medicamento e vacina, com base no fato de que essa crise só vai acabar quando tiver uma vacina” , diz a pesquisadora do Centro de Pesquisa em Ciência, Tecnologia e Sociedade do Ipea Fernanda de Negri, uma das autoras do estudo. Segundo ela, sai mais barato investir em pesquisa para encontrar soluções do que arcar com os custos de uma economia parcialmente paralisada.
Boa parte do valor vem de um crédito suplementar aprovado em favor do MCTI, de R$ 352,8 milhões de reais, sendo 307 milhões para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). No entanto, o montante não recompõe contingenciamentos. Principal fonte de financiamento de pesquisa no país, o FNDCT tem um orçamento previsto de 5,2 bilhões de reais para este ano, dos quais 4,2 bilhões estão contingenciados.
“Isso significa que o Brasil está investindo pouco, muito menos do que deveria, se a gente faz essa comparação (com outros países). Estamos fazendo uma campanha para liberação integral da verba do FNDCT porque é um absurdo completo ficar um recurso congelado quando ele é essencial para enfrentar a pandemia”, diz o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Ildeu de Castro Moreira.
O próprio ministro de Ciência, Tecnologia e Inovações, Marcos Pontes, afirmou na última quarta-feira (24/6) que 90% dos recursos do fundo permanecem bloqueados pelo governo. “Todos os ministérios sofrem com a falta de recursos, mas o investimento em ciência e tecnologia é essencial para o desenvolvimento do país e pode ser solução para a crise”, declarou em comissão na Câmara dos Deputados.
“Os pesquisadores que estão trabalhando (na pesquisa da covid no Brasil) são os que já tem recursos de pesquisa aprovados em momentos anteriores, e que estão direcionando a verba para a covid”, afirma, por sua vez, Fernanda de Negri.