Sábado, 26 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 6 de julho de 2020
Indicadores econômicos de maio e junho indicam uma reação da economia brasileira e sinalizam que o pior da crise pode ter ficado para trás, apesar das incertezas ainda elevadas sobre o ritmo de recuperação e sobre o avanço da pandemia de coronavírus no País.
Dados da Receita Federal de emissão de notas fiscais apontam uma retomada já em junho. Números antecipados pelo jornal O Estado de S.Paulo e divulgados oficialmente nesta segunda-feira (6) mostram que o mês passado teve o maior patamar em emissões de notas fiscais do ano, chegando a R$ 23,9 bilhões em vendas ao dia, o que é um crescimento de 10% em relação a junho de 2019.
O termômetro capta, principalmente, as vendas entre empresas de médio e grande porte, bem como as vendas não presenciais de empresas para pessoas físicas.
Na comparação com o mês anterior, o tombo nas vendas de abril foi seguido de aumentos de 9,1% em maio e de 15,6% em junho. Ainda de acordo com a Receita, todas as regiões do País mostraram recuperação no ritmo de vendas em junho.
O resultado da produção industrial em maio, divulgado na semana passada pelo IBGE, também surpreendeu positivamente, ao mostrar um crescimento de 7% na comparação com abril. O avanço foi insuficiente para reverter a perda de 26,3% acumulada em março e abril, mas trouxe o alívio de que o setor parou de cair. Os dados de serviços e comércio serão divulgados nesta semana.
“Abril foi o fundo do poço”
“Acredito sim que o pior da crise ficou para trás e que abril foi, de fato, o fundo do poço. Os indicadores antecedentes da atividade econômica vêm surpreendendo positivamente”, avalia e economista Luana Miranda, pesquisadora do Ibre/FGV. “Nossa última projeção oficial para o PIB é de queda de 9,8% no 2º trimestre, na comparação com o trimestre anterior, e de 6,4% no ano. Contudo, os indicadores antecedentes de maio e junho trazem um viés ligeiramente positivo no cenário, a confirmar após a divulgação das pesquisas de comércio e de serviços de maio.”
O economista Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, também avalia que a recuperação pode se dar de maneira mais rápida do que inicialmente se imaginava.
“Parece que há uma recuperação em curso melhor do que se esperava, com abril tendo sido o fundo do poço e os números melhorando rapidamente depois disso. Essa recuperação mais rápida deve fazer com que o PIB caia menos do que se imaginava”, afirma.
Os economistas do mercado financeiro melhoraram levemente as estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020. A projeção passou de uma retração de 6,54% para 6,50%, segundo boletim Focus. O Ibre e a MB Associados projetam uma queda de 6,4% no ano.
Apesar da avaliação de que o Brasil já entrou em uma nova recessão e deverá registrar uma forte retração em 2020, bancos como o Itaú e Fator também consideram que a economia já entrou em recuperação.
“Dados indicam que a atividade econômica atingiu o piso em abril. Indicadores como o consumo de energia elétrica industrial, a utilização de capacidade da indústria de transformação e construção, a retomada de produção de algumas montadoras de veículos, assim como o nosso indicador diário de atividade, mostram melhora em maio e junho”, avaliou o Itaú em nota divulgada ao mercado.
O banco mantém uma projeção menos pessimista que a da média do mercado para o resultado do PIB em 2020 e estima uma retração de 4,5% no ano.
Retomada em “V”
Os economistas alertam, no entanto, para o nível ainda elevado de incerteza econômica e política no País, e avaliam que a recuperação das perdas com a pandemia deverá se dar de maneira gradual, em um ritmo provavelmente mais lento que o de outras economias.
Para Paulo Gala, diretor-geral da Fator Administração de Recursos e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), avalia que a recuperação da economia brasileira tende a ser em ritmo mais fraco do que a observada nos Estados Unidos, Reino Unido ou Europa.
“O Brasil já estava numa situação muito frágil, com várias empresas à beira da falência, muita dívida, desemprego ainda muito elevado e perspectivas de crescimento muito ruins. A Covid foi uma espécie de gota d’água para a quebradeira generalizada e não há nenhuma sinalização do governo de no futuro tomar medidas de estímulo. Muito provavelmente vamos ficar entre as piores recuperações do mundo”, afirma.
O nível ainda muito baixo da atividade, que ainda não tinha se recuperado das perdas da recessão de 2014-2016, também é apontado como um desafio adicional para uma retomada mais forte.
“O nível de incerteza ainda bastante alto deve conter o crescimento do consumo e do investimento, inviabilizando uma possível retomada em ‘V’. A recuperação inicial deve ser um pouco mais forte, mas depois deve seguir em um ritmo mais lento até retomar ao patamar pré-crise”, avalia Miranda.