Segunda-feira, 10 de março de 2025
Por Redação O Sul | 15 de julho de 2020
O Tribunal de Apelação de Milão condenou nesta quarta-feira (15) o motorista ítalo-senegalês Ousseynou Sy a 24 anos de prisão pelo sequestro de um ônibus escolar em março de 2019.
O episódio ocorreu em San Donato Milanese e terminou sem vítimas graças à ação corajosa dos adolescentes Ramy Shehata e Adam El Hamami, que esconderam seus celulares do sequestrador e avisaram a polícia. Ambos são filhos de imigrantes e ganharam a cidadania italiana por heroísmo em junho daquele ano.
Em sua sentença, a Corte de Apelação de Milão admitiu a tese do Ministério Público de sequestro com finalidade de terrorismo e também determinou o pagamento de uma indenização de 25 mil euros para cada um dos 51 estudantes presentes no ônibus, com exceção de um único que abriu mão da quantia, e de 3 mil euros para cada família.
Antes do pronunciamento da sentença, Sy reafirmou que o crime teve como objetivo denunciar as mortes de migrantes e refugiados no Mediterrâneo. “Se querem me condenar, que o façam, mas lembrem-se de que meu gesto tinha o único objetivo de salvar vidas humanas, porque não dava mais, eu via os horrores todos os dias”, disse.
O sequestro ocorreu enquanto o líder de extrema direita Matteo Salvini era ministro do Interior e responsável pelas políticas migratórias da Itália. Sy o definiu no tribunal como “pequeno Duce”, em referência ao apelido usado por Benito Mussolini, e usava uma máscara facial com os dizeres “A África nunca morrerá”.
“O criminoso, para esse delinquente, fanático e violento, seria eu. Esperamos que não saia da cadeia nunca mais”, escreveu Salvini no Twitter.
A defesa contesta a tese de terrorismo e prometeu recorrer da sentença. Já a mãe de Adam El Hamami rejeitou a hipótese de que Sy tenha sequestrado o ônibus escolar para protestar. “Todos ficamos impressionados e condenamos as mortes no mar, mas ele sequestrou filhos de imigrantes, e não acreditamos que o tenha feito por protesto”, disse.
Dinâmica
Sy levava os jovens de volta a uma escola de Crema, a 50 quilômetros de Milão, após uma atividade externa. Perto de San Donato Milanese, ele mudou a rota e anunciou aos 51 estudantes a bordo que iria para o Aeroporto de Linate. Três funcionários da escola, incluindo dois professores, também estavam no veículo.
O motorista confiscou os celulares dos alunos, mas Ramy e Adam esconderam seus aparelhos e conseguiram alertar a polícia. O agressor tentou furar um bloqueio da Arma dos Carabineiros, mas perdeu o controle do ônibus, que se chocou contra uma mureta.
Sy então espalhou gasolina pelo veículo e o incendiou, porém os policiais conseguiram retirar todos os passageiros em segurança.
O sequestro durou pouco menos de 40 minutos. Cidadão italiano desde 2004, o motorista tinha antecedentes penais por dirigir embriagado (2007) e assédio sexual contra uma adolescente (2011).