Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de julho de 2022
Pesquisadores estão descobrindo o tamanho do impacto dos ruídos humanos na vida oceânica — mas existem formas surpreendentemente simples de lidar com essa espécie menosprezada de poluição.
Logo após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, um enorme silêncio caiu sobre a América do Norte, dentro e fora d’água.
Muitas pessoas deixaram de viajar de avião, o que era compreensível. Mas o tráfego de navios também caiu significativamente, mesmo em regiões mais ao norte, como na baía de Fundy, no Canadá — o que fez com que o ruído subaquático da baía caísse em incríveis seis decibéis, com redução significativa dos sons abaixo de 150 Hz.
A região é frequentada pelas baleias-francas-do-atlântico-norte, o que levou cientistas da Universidade Duke, nos Estados Unidos, a estudar se as águas mais calmas tiveram algum impacto sobre esses mamíferos gigantes. E, depois de analisar seu material fecal em busca de hormônios do estresse, eles concluíram que a redução do ruído oceânico de origem humana estava causando níveis de estresse mais baixos.
Animais marinhos como as baleias usam o som para fazer de tudo, desde comunicar-se e viajar até procurar alimento e encontrar ambientes seguros.
“O som viaja mais rápido e mais longe na água que no ar e os animais marinhos se aproveitam disso”, afirma Lucille Chapuis, ecologista sensorial da Universidade de Exeter, no Reino Unido.
Mas isso também significa que o zumbido quase constante da poluição sonora subaquática, como o causado pelo tráfego dos navios, pode prejudicar muito o seu modo de vida. “Nos últimos 50 anos, o aumento da navegação fez crescer em 30 vezes o ruído de baixa frequência existente ao longo das principais rotas marítimas”, afirma Chapuis.
Imagine seu vizinho no andar de cima reformando seu apartamento e você em uma importante apresentação profissional em uma chamada de vídeo. Você terá muita dificuldade para ouvir e comunicar-se com seus colegas para fazer um trabalho adequado.
É isso que os animais marinhos que vivem ou migram perto dos ruídos humanos precisam suportar na maior parte do tempo.
Há décadas, cientistas de todo o mundo vêm estudando o impacto que esses ruídos podem causar sobre os animais marinhos. Agora, eles estão começando a identificar medidas que, se forem amplamente adotadas, poderão salvar muitas espécies dos impactos dessa poluição menosprezada.
Problema ressonante
O ruído oceânico causado pelos seres humanos vem de uma enorme variedade de fontes, que vão desde os sonares militares e o pouso de aeronaves até a construção de fazendas eólicas em alto-mar e pesquisas sísmicas para exploração de petróleo e gás. Mas a fonte de ruídos mais comum são os navios, especificamente suas hélices.
Quando as hélices dos navios — especialmente dos mais antigos — giram em alta velocidade, elas podem criar queda de pressão no lado oposto, atrás da hélice, o que resulta em uma grande quantidade de bolhas e ruídos de baixa frequência. Este efeito é conhecido como cavitação.
A cavitação também reduz a eficiência dos navios, já que a hélice consome muita energia e parte dela não ajuda a impulsionar o navio para frente.
O som de baixa frequência tem longo alcance e pode prejudicar as comunicações entre os animais marinhos em uma área muito grande. Os golfinhos-nariz-de-garrafa, por exemplo, usam todo tipo de sons para comunicar-se entre si.
Alguns desses sons podem ser detectados por outros golfinhos a mais de 20 km de distância e são frequentemente prejudicados pelos ruídos de origem humana.