A Apple criticou os planos europeus para forçar empresas de tecnologia a adotar um carregador padrão universal para todos os smartphones e outros eletrônicos, argumentando que isso tolheria a inovação.
No começo do mês, o Parlamento Europeu retomou uma discussão que já dura uma década sobre a adoção de um “carregador comum” obrigatório, para aparelhos móveis.
Maros Sefcovic, vice-presidente da Comissão Europeia para relações interinstitucionais e planejamento, declarou em um discurso recente que um esquema como esse seria mais conveniente para os consumidores e reduziria o volume de lixo eletrônico.
“Contemplaremos uma combinação de opções de política, abarcando tanto medidas regulatórias quanto medidas não regulatórias, para atingir nossos objetivos”, ele disse, mencionando o que definiu como uma “oportunidade perdida” para uma abordagem voluntária por parte do setor de tecnologia.
Desde que começou a campanha europeia por um carregador comum, no final da década de 2000, o número de cabos de carga e de portas de conexão diferentes em uso pelos fabricantes de smartphones se reduziu de dezenas a apenas três: duas variantes de USB, o padrão do setor, e o padrão Lightning, exclusivo do iPhone e iPad.
Em sua primeira declaração em resposta às mais recentes propostas, a Apple afirmou na quinta-feira (23) que forçá-la a abandonar o padrão Lightning causaria inconveniência a centenas de milhões de seus clientes e criaria “um volume sem precedentes’ de lixo eletrônico.
“Acreditamos que regulamentação que força conformidade quanto ao tipo de conector incluído nos smartphones sufoca a inovação, em lugar de encorajá-la, e prejudicaria os consumidores da Europa e a economia como um todo”, afirmou a Apple. “Esperamos que a Comissão. continue a buscar uma solução que não restrinja a capacidade do setor para inovar e pra levar tecnologias novas e empolgantes aos clientes”.
A companhia do Vale do Silício — que faturou US$ 24,5 bilhões (R$ 102 bilhões) com a venda de acessórios, como fones de ouvido, relógios e carregadores, para o iPhone em seu mais recente ano fiscal, adotou conectores USB-C em seus modelos iPad Pro mais recentes, mas depende do Lightning desde 2012, quando o iPhone 5 iniciou a transição do modelo anterior de carregador que ela usava.
Embora o tamanho médio dos smartphones tenha crescido desde então, os conectores Lightning continuam a ser 20% menores do que os conectores USB-C equivalentes, o que deixa mais espaço dentro do celular para componentes como as baterias.
Os cabos oficiais Lightning da Apple custam mais de US$ 19 nos Estados Unidos (na Europa, o preço é de 25 euros, e no Reino Unido eles custam 19 libras).
Um estudo conduzido pela consultoria Copenhagen Economics a pedido da Apple, no mês passado, constatou que embora 49% dos domicílios dependam de tipos diferentes de conectores, apenas 0,4% dos consumidores europeus disseram ter “experimentado problemas regularmente” com o carregamento de seus aparelhos, devido a cabos incompatíveis.
A Apple argumenta que tornar obrigatório o uso de um tipo único de cabo retardaria a introdução de futuras melhoras e criaria mais lixo, porque os consumidores seriam forçados a jogar fora acessórios como adaptadores para carga em automóveis e estações de acoplagem de alto-falantes.
Muitos smartphones agora oferecem recarga sem fio, e os maiores fabricantes, como Apple e Samsung, em geral apoiam o mesmo padrão, conhecido como “Qi”. Não se sabe de que maneira as novas propostas europeias lidariam com a questão da recarga sem fio.
Houve especulações, depois da remoção da entrada para fones de ouvido do iPhone, de que os aparelhos da Apple no futuro pudessem remover o conector Lightning e confiar integralmente em carregamento e conexão sem fio.
Mas integrantes do Parlamento Europeu insistiram em que um novo regime regulatório acompanharia o ritmo das inovações.
“Qualquer solução de carga nova e com m melhor desempenho seria recebida favoravelmente, desde que a solução de recarga seja comum”, disse Sefcovic no começo do mês.