Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de outubro de 2018
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e o rei da Arábia Saudita, Salman bin Abdulaziz, conversaram por telefone na noite de sexta-feira, poucos momentos antes de o governo saudita admitir pela primeira vez que o jornalista saudita Jamal Khashoggi morreu no consulado da Arábia em Istambul, no último dia 2. O canal de notícias estatal saudita Al Ekhbariya transmitiu um comunicado na madrugada deste sábado segundo o qual resultados preliminares da investigação sobre o caso Khashoggi indicam que o repórter está morto.
Segundo o governo saudita, uma briga teria ocorrido entre Khashoggi e pessoas que estavam no consulado saudita em Istambul e, por isso, ele acabou morrendo. O comunicado informou ainda que 18 cidadãos sauditas foram presos em decorrência do caso. Ahmed Al Asiri, chefe de inteligência saudita, e o conselheiro real Saud Al Qahtani foram retirados de seus cargos.
O rei Salman ordenou ainda a reestruturação do comando da agência geral de inteligência sob a supervisão do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, de acordo com a agência oficial da imprensa saudita.
Jamal Khashoggi, jornalista saudita crítico ao governo da cidade de Riad, era considerado desaparecido desde o dia 2 de outubro, depois que entrou no consulado de seu país em Istambul.
Segundo a BBC, o jornalista esteve no consulado saudita em Istambul pela primeira vez em 28 de setembro, para obter um documento certificando que havia se divorciado da ex-mulher, mas foi informado na ocasião de que teria que voltar outro dia. Ele precisava do documento para se casar com a sua noiva turca, Hatice Cengiz.
Khashoggi marcou o retorno para 2 de outubro e chegou às 13h14min no horário local – o compromisso estava marcado para as 13h30min. Sua noiva ficou aguardando do lado de fora e, a pedido dele, ficou com seu telefone celular e a instrução de que deveria telefonar para um assessor do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, se ele não voltasse.
Hatice esperou por mais de 10 horas fora do consulado e retornou na manhã do dia seguinte, uma quarta-feira, e Khashoggi ainda não havia reaparecido.
Desde o início do caso a imprensa turca acusava autoridades sauditas de terem assassinado Khasoggi dentro do consulado, mas a Arábia Saudita sempre negou e, até esta sexta, nunca tinha admitido que o jornalista estava morto.
O jornal turco Yeni Safak inclusive publicou o que dizia ser o conteúdo de gravações feitas no interior do consulado. De acordo com a reportagem, Jamal teria sido torturado e decapitado por agentes sauditas. O veículo também afirmou que o assassinato durou sete minutos e que o corpo teria sido desmembrado ainda vivo.
Investigadores turcos estiveram mais de uma vez no consulado e também na residência oficial do cônsul saudita, e nesta sexta fizeram uma busca na floresta Belgrado, na margem europeia de Istambul.
Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que a explicação dada pelas autoridades sauditas nesta sexta-feira é “crível”, e que os EUA irá continuar acompanhando a investigação.
Em uma declaração assinada pela secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, o governo americano diz estar “triste pela confirmação da morte do senhor Khasoggi” e oferece suas condolências à família, noiva e amigos do jornalista.
Desde o início do caso, Trump tem defendido a Arábia e chegou a dizer que acreditava que Khasoggi poderia ter sido alvo de “assassinos fora de controle”.
No início da semana, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, esteve na Arábia, onde se encontrou com o rei Salman e o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman, e na Turquia, conversando com o presidente Erdogan sobre o caso.
Mesmo prometendo uma punição severa caso algo seja provado contra o país, Trump tem ressaltado sua crença na inocência das autoridades sauditas. “Não estou encobrindo nada. Eu só quero averiguar o que está acontecendo. Provavelmente vamos saber algo até o final da semana”, disse o presidente na quinta.
Jamal Khashoggi morava nos Estados Unidos desde 2017 e escrevia para o jornal Washington Post. Seu último artigo foi publicado no dia 18 deste mês e fazia um apelo contundente pela liberdade de expressão no mundo árabe.