Foi um momento sem precedentes na TV brasileira. Assim como “Amor de Mãe”, “Salve-se Quem Puder” entrou para a história como a novela que foi interrompida por causa da pandemia. Paralisada em março do ano passado, a trama das 7, escrita por Daniel Ortiz e com direção artística de Fred Mayrink, teve as gravações retomadas em agosto – com a equipe seguindo protocolos de segurança – e finalizadas em dezembro. Um ano depois de sair do ar, a novela retorna ao horário das 19h, nesta segunda-feira (22), na Globo. Será reexibida desde o começo – a trama estreou em janeiro de 2020 – e, a partir de maio, emendará os 53 capítulos inéditos.
Misturando comédia e ação, a história da novela gira em torno de três protagonistas, Alexia Máximo, Luna Furtado e Kyra Romantini, interpretadas respectivamente por Deborah Secco, Juliana Paiva e Vitória Strada. O trio se conhece por acaso em Cancún, no México, mas, depois de testemunhar um assassinato, passa a ser perseguido pelos criminosos e precisa mudar de identidade (e de vida) após entrar no Programa de Proteção à Testemunha.
Deborah Secco lembra do impacto que foi receber a notícia, no ano passado, de que as gravações iriam parar. “Tenho 32 anos de TV Globo e nunca imaginei ver uma novela saindo do ar assim. Lembro que, quando me deram a notícia, eu estava indo gravar. Falaram: não precisa vir hoje, a gente vai parar a gravação, a novela vai sair do ar. Para mim, foi uma certeza do quão grave era a história da covid. Porque a gente ainda não tinha muita informação. Para mim, era uma coisa grave, mas não tinha noção do quanto importante seria, muito menos de quantas mortes teríamos. Nem nos nossos piores pesadelos acho que imaginávamos isso que está acontecendo”, diz a atriz de 41 anos, em entrevista ao Estadão, por Zoom.
Para fechar o que seria a ‘primeira temporada’ da novela, Daniel Ortiz teve de antecipar revelações importantes na trama, como a de que Hugo (Leopoldo Pacheco) é o chefe da quadrilha de Dominique (Guilhermina Guinle), responsável pelo assassinato testemunhado pelas três heroínas. Além disso, na última cena que foi ao ar, Dominique descobre que Luna está viva. “A gente gravou as últimas cenas num último dia para que a novela pudesse ter esse grande desfecho de primeira temporada, e para que a gente pudesse manter o público ali curioso para nossa segunda temporada”, afirma a atriz. Na nova versão, a novela foi encurtada em cerca de 30 capítulos. “Então, a gente já volta naquele momento de últimas emoções.”
Após meses afastada de sua Alexia/Josimara, Deborah confessa que não sabia se conseguiria voltar a fazer a personagem. “Brinco que meus personagens são energias que baixam em mim, que vêm para mim. Não é matemático, não é algo que a gente consiga acessar na hora que a gente quer. É meio que uma conjunção de energias, e as coisas vão dando certo.” A atriz conta que as gravações foram retomadas do exato momento em que pararam. Mas, àquela altura, ela já havia passado por mudanças, inclusive emocionais. “Foi muito difícil, mas foi surpreendentemente tranquilo: quando entrei no set, olhei para as pessoas e coloquei figurino, tudo fluiu de forma muito simples e fácil, mas também não sei como vai ser vendo, se a gente vai ver algum degrauzinho ali, talvez na aparência.”
Esse retorno foi feito em meio a uma nova rotina – e a uma nova forma de se gravar, com distanciamento, muito álcool gel, placas de acrílico, menos pessoas em cena e frequentes testes de covid-19. Mas, mesmo assim, o ritmo frenético da trama foi mantido. “Imaginei que, com todo o protocolo de segurança, com distanciamento, eles não ousariam em cenas de difícil produção, mas eles não pouparam. A gente volta com cenas de ação bem difíceis de se fazer, mais difíceis ainda com protocolo. A gente despenca de prédios. Muitas cenas de ação, de perseguição, não sei como a gente conseguiu fazer tudo isso com o protocolo, mas a gente conseguiu.”
As cenas de romance foram outro desafio. “Fizemos muitas cenas românticas. Então, era complexo: botava o acrílico, embaixo a gente juntava a mão, tirava a mão, já passava álcool. Era uma dinâmica que deixava tudo mais lento. A gente que estava ali fazendo via que não era do mesmo jeito, mas para quem vê pronto é do mesmo jeito. A mesma coisa as cenas de romance, são muitos romances. Então, tem muito beijo no vento, muito beijo com acrílico no meio, muito beijo na bolinha de tênis no croma verde para depois inserir as duas imagens. Ou, nas cenas em que, de fato, era necessário o contato, a gente quarentenava.
Ficávamos 7 dias num hotel isolados, e testávamos de 2 em 2 dias e, no dia de gravar, testávamos de novo. E aí podíamos nos tocar”, explica.
A pandemia, no entanto, não foi incorporada aos novos capítulos da novela, diferentemente do que aconteceu em Amor de Mãe. Foi uma escolha de Daniel Ortiz, diz a atriz. “Ele acha que essa é uma novela muito leve, que não tinha muito compromisso com a realidade. Era uma novela fantasiosa, que tinha como intuito unicamente divertir e ser leve, e ele tomou essa decisão de não incorporar, porque ele acha que neste momento a gente podia entregar para o Brasil algo leve, alguns minutos para que a gente esquecesse tudo isso que a gente tem vivido durante esse último ano.”
Antes de retornar às gravações de Salve-se Quem Puder, no início de setembro, Deborah teve covid. Seu marido, Hugo Moura, também. A atriz conta que o quadro dela foi pior: teve complicação no pulmão e, na fase pós-covid, não conseguia sentir gosto nem cheiro. Agora, ela diz que está bem. “O incerto dá muito medo, e essa é uma doença incerta, ela não é igual para ninguém”, diz. “Algumas pessoas da família também tiveram, mas (está) todo mundo bem.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.