Quinta-feira, 13 de março de 2025
Por Redação O Sul | 6 de fevereiro de 2019
A Câmara dos Deputados pode convocar o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, a dar explicações em plenário sobre declarações que fez à revista “Veja”. Em recente entrevista à publicação, o titular da pasta – que é colombiano naturalizado brasileiro – disse que os brasileiros são “canibais” e “roubam coisas” nos locais por onde passam, tais como hotéis e aviões.
Autor da iniciativa, o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) conseguiu ultrapassar o número de 171 assinaturas e vai protocolar um requerimento para que Vélez seja ouvido. Ele pedirá ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que paute o requerimento na próxima semana. O ministro será obrigado a comparecer somente se a maioria da Casa aprovar.
“São declarações inaceitáveis de um ministro estrangeiro que é naturalizado e não respeita os brasileiros”, afirmou Molon. À revista “Veja”, Vélez usou a expressão “canibal” ao falar sobre os brasileiros e declarou: “Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião, acha que sai de casa e pode carregar tudo. Esse é o tipo de coisa que tem de ser revertido na escola”.
Por meio de nota, a assessoria do ministro afirmou que ele apenas se referia a casos específicos, “sem a intenção de generalizar”.
Mais polêmicas
Na mesma entrevista, Vélez defendeu a ideia de que a universidade não é para todos e defendeu reintroduzir a antiga disciplina de “educação moral e cívica” no currículo do ensino fundamental. O objetivo, segundo ele, é fazer com que os estudantes aprendam “o que é ser brasileiro” e quais são “os nossos heróis”.
“Eu vou dar muita ênfase a isso, à retomada desse processo de ensino de valores fundamentais da nossa vida cidadã”, argumentou. “Tanto no ensino infantil quanto no ensino fundamental, ao longo de todo o ensino fundamental e, por que não?, continuando no nível universitário.”
Velez Rodríguez também elogiou o programa “Escola Sem Partido” e fez críticas ao que chama de “ideologização precoce de crianças na escola”. Ele afirmou que a escola “não serve para fazer política” e que a ideologização nas escolas é “um abuso, um atentado ao pátrio poder e uma invasão da militância em um aspecto que não lhe compete”. E ameaçou: quem praticar isso ostensivamente vai responder à legislação.
Sobre a liberdade de ensino, disse que isso não significa fazer o que se deseja: “Liberdade é agir, fazer escolhas dentro dos limites da lei e da moralidade. Fazer o que dá vontade não é ser livre. Isso é libertinagem. No Brasil, por força de ciclos autoritários, temos uma visão enviesada da liberdade. Liberdade não é o que pregava Cazuza, que dizia que liberdade é passar a mão no guarda”.
A mãe do músico Cazuza (1958-1990), Lucinha Araújo, garantiu que o filho nunca disse isso e esclareceu que a frase é de autoria dos humoristas do extinto jornal humorístico “Casseta e Planeta”. Em uma carta aberta, ela cobrou uma retratação e acabou recebendo uma ligação de Vélez na última terça-feira, pedindo desculpas.
“Eu achei que ele além de ser mal informado, ele foi leviano de dar uma declaração dessas”, afirmou Lucinha Araújo. “Como é que o senhor pôs na boca do meu filho? Ele disse: ‘Ah! senhora, mil perdões. Eu não sei como eu vou me desculpar’. Eu falei: ‘Quero que o senhor se desculpe publicamente'”, relatou.
Horas depois, o ministro da Educação se desculpou em uma rede social. Disse que a conversa foi tocante e que combinou uma visita a Lucinha Araújo quando for ao Rio de Janeiro. E finalizou: “O amor do coração de uma mãe por seu filho é algo valoroso”.
A presidente do movimento “Todos Pela Educação”, Priscila Fonseca da Cruz, também criticou declarações do ministro. Ela disse que o país precisa identificar e enfrentar os problemas reais da educação: “O problema central da educação brasileira é que a gente não tem conseguido garantir aprendizagem dos nossos alunos. E como que a gente resolve esse desafio? Com formação de professores, escolas bem geridas, com tempo integral, com material didático de qualidade, com uma boa base nacional curricular. É assim que se resolve”.