Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 4 de setembro de 2017
Tocada sem parar nas muitas horas de atraso que Lula impôs a seus eleitores no Nordeste, a música tema da pré-campanha do ex-presidente e líder do PT encontrou eco em um público inconstante, com muitas estradas bloqueadas por fãs e alguns eventos relativamente vazios em sua caravana, que termina nesta terça (5) no Maranhão.
Segundo o Datafolha, Lula tem 48% das intenções de votos no Nordeste, ante 30% na média nacional.
Isso ainda faz de Lula, 71, quase um popstar na região; capaz de levar pessoas espontaneamente à beira de rodovias e de provocar uma energia genuína em torno dele.
Tudo embalado num misto de paternalismo, boas tiradas, dados positivos de sua gestão e algumas inverdades.
Sua caravana de três ônibus escoltada pela PM em Estados de aliados (como os governadores Camilo Santana, PT-CE, e Wellington Dias, PT-PI) foi parada várias vezes por apoiadores. Na casa das dezenas ou centenas, eles foram quase sempre atendidos com cumprimentos e fotos.
Mas em eventos programados sobre palanques em cidades um pouco maiores, a sensação foi de gente de menos para área reservada de mais; com muitos petistas mais “hardcore”, como membros de sindicatos e integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra).
“A caravana foi feita para conversar com a população e lideranças locais. Para ver o que mudou no Nordeste, nas capitais e no interior, nos governos do PT, e os retrocessos no atual governo. Não havia expectativa nenhuma quanto ao público”, diz a assessoria que acompanha o ex-presidente.
Nesta etapa da cobertura, a reportagem vem seguindo Lula desde a segunda passada (28), a partir de Currais Novos (RN), cidade com 45 mil habitantes e governada por Odon Junior (PT).
Público reduzido
Os animadores de palco na cidade estimaram em 25 mil os presentes, mas apenas um terço da área reservada para o público, o modesto Largo do Tungstênio, foi ocupada enquanto Lula falava.
No Crato (CE), a lotação no dia 30 também não chegava a um terço da área reservada: 3.900 m² no estacionamento do Centro de Convenções do Cariri, segundo croqui mostrado pela assessora administrativa Raquel Albuquerque à reportagem e ao coronel da PM Cícero de Brito.
Embora houvesse expectativa na cidade de 20 mil presentes (Crato tem 95 mil habitantes e a vizinha Juazeiro do Norte, 240 mil), Brito disse que, pelos critérios da PM (quatro pessoas por m² em locais cheios), ali caberiam cerca de 16 mil. Ele não fez estimativa considerando o 1/3 ocupado.
Marcado para 17h, o evento no Crato começou às 21h e Lula só falou às 22h25, por 12 minutos. Ele se desculpou pelo “banho de canseira” dizendo ter sido parado “várias vezes na estrada”.
Na sexta (1º) em Marcolândia (PI), o local reservado ao público também só ficou cheio perto do palco. “Com o desespero do povo nesta crise, achei que vinha mais gente”, disse José Ramos, 50, dono de uma casa de espetáculos na vizinha Alegrete. “Levei mais gente que isso no show do [cantor de forró] Gabriel Diniz.”
Já “o retrocesso no governo do golpista Temer foi de fato mote de Lula nesta caravana. Segundo dados do IBGE, nos dois governos de Lula e até o primeiro mandato de Dilma Rousseff, o Brasil passou por uma melhora inédita na redução da desigualdade: quanto mais pobre, maior foi o aumento da renda do brasileiro.
No Nordeste, que tem mais pobres, a melhora foi “chinesa”. Assim como o retrocesso atual criado pela maior recessão da história e engendrado no governo Dilma.
Em seus discursos, Lula omitiu tanto essa sequência de responsabilidades quanto a crise fiscal agravada pelas “pedaladas” de Dilma. E criticou o quanto pôde o plano de Temer de reformar a Previdência.
Também não falou em ajuste. Ao contrário, martelou o sucesso das políticas de seu governo e prometeu acelerar mais o gasto público direcionado aos mais pobres caso volte após “os retrocessos do golpista”.
Na semana passada, dois dados do IBGE debilitaram esse discurso: o PIB do segundo trimestre cresceu 0,2% (a segunda alta seguida) e a taxa de desemprego caiu de 13,6% para 12,8% no trimestre até julho, com 721 mil pessoas a menos na fila por um emprego.
Ironicamente, a recuperação da recessão de Dilma se dá pela gestão do ex-presidente do Banco Central de Lula e atual ministro de Temer, Henrique Meirelles (Fazenda). Ele não é nem do PT nem do PMDB, mas filiado ao PSD.
Protesto
Neste domingo, em Teresina (PI), um protesto organizado pelo movimento Vem Pra Rua com bonecos contra Lula, vestido como presidiário, e a favor do juiz Sergio Moro reuniu algumas dezenas de pessoas. (Folhapress)