Sexta-feira, 18 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 16 de fevereiro de 2020
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) recomendará aos clubes e escolinhas de futebol que crianças menores de 12 anos não treinem cabeceio na bola. A medida segue a de países como Estados Unidos e Escócia, que proibiram esse tipo de trabalho na base, e tem por objetivo prevenir problemas cognitivos, como distúrbio de atenção, memória de fixação e memória verbal.
Médico e neurocirurgião da CBF, Jorge Pagura disse que a entidade tem realizado pesquisas e debatido cada vez mais com profissionais de diferentes países sobre a saúde dos atletas. A entidade brasileira ainda não tem um protocolo pronto de como será a recomendação. A iniciativa está em fase de desenvolvimento. “Vamos informar, fazer a recomendação, mas sem alarmar ninguém, é lógico”, revelou ao Estado.
Segundo Pagura, não há comprovação científica de que o impacto da bola de futebol na cabeça da criança cause algum dano, mas ele ressaltou que a prevenção nessa idade é importante. “Até os 13 anos é o período de formação do sistema nervoso, portanto, qualquer medida preventiva para evitar traumas na cabeça é bem-vindo”, declarou. O entendimento da entidade é que até o início da adolescência o futebol deve ser encarado como atividade lúdica, sem priorizar muito a parte técnica. “Não se pode fazer craque com essa idade. Esse é o período de se ver as aptidões”, disse.
Coordenador do departamento de neurologia pediátrica do Sabará Hospital Infantil, Carlos Takeuchi defende a iniciativa da CBF e sugere a expansão para jovens até 18 anos. “É óbvio que não se pode ficar batendo cabeça. Nunca é bom. E isso vale para qualquer idade. No esporte há muitos casos de demência causadas por excesso de pancadas na cabeça. Para mim isso não devia ser estimulado para nenhum atleta. Pelo menos até atingir a maioridade.”
Pagura acha que é exagerado pedir que jovens com menos de 18 anos sigam essa cartilha. “Mas crianças até 12 anos acho extremamente importante fazer esse tipo de orientação.”
Os Estados Unidos foram pioneiros nesse movimento e em 2015 proibiram o cabeceio em treinos e jogos para crianças de até dez anos de idade. A decisão foi motivada após um grupo de pais e jogadores entrarem na Justiça contra a US Soccer e a Fifa. No país norte-americano, o futebol também é influenciado por outros esportes que têm maior impacto na cabeça e mais casos de concussão cerebral, como o futebol americano e o hóquei no gelo.
A Escócia tornou-se no início deste ano o primeiro país europeu a adotar medida semelhante. A Federação Escocesa de Futebol proibiu o cabeceio na bola para jovens de até 12 anos.
O consultor de vendas Fábio Leandro Alves dos Santos acompanha a filha Victória de perto no futebol. Ele concilia o trabalho autônomo à rotina de treinos da garota de nove. De segunda, quarta e sexta ela tem futsal no PS9. De terça e quinta no início da tarde, vai no São Paulo. E quinta no final da tarde na escolinha do Paris Saint-Germain. O pai fica encostado no alambrado com o celular na mão para registrar em vídeo as jogadas da caçula. O filho mais velho, Murilo, de 12 anos, nunca gostou de futebol. “O negócio dele é videogame”. Mas ela puxou o pai, que aprendeu a jogar futebol nas categorias de base da Portuguesa e conta que deu muito drible no ex-jogadores Zé Roberto e Rodrigo Fabri.
Victória treina com os meninos no sub-11 do PSG e é um dos destaques. “Não importa o time, sempre dão a camisa 10 para ela. Chamam ela de Martinha”, conta o pai orgulhoso. Fábio concorda com a nova medida que deve ser implementada pela CBF. “Eles estão em formação. Sei que já tem algumas escolinhas que adotam essa medida. Essa questão do cabeceio sou a favor da proibição. Precisa haver idade mínima. Mais para frente poderão treinar esse fundamento”, opinou.