A Venezuela tem sido o foco de grande parte da mídia mundial nos últimos dias. O motivo é simples: Nicolás Maduro, o atual presidente, se recusou a deixar o cargo, apesar de sua provável derrota nas eleições de 28 de julho. As pesquisas de boca de urna mostraram uma derrota pesada para o titular, mas uma autoridade eleitoral não transparente lhe deu uma vitória apertada.
Esta decisão pode representar o passo final no estabelecimento de uma ditadura no país sul-americano, mas também pode ser uma nova situação em que um líder autoritário enterra um movimento democrático. Para terminar o trabalho, Maduro tem o apoio incondicional de um de seus aliados mais próximos: a República Popular da China.
A evidência é clara. Em situações recentes em que a legitimidade de Maduro foi desafiada, a China lhe lançou uma tábua de salvação para permanecer no poder. Em 2013, por exemplo, Pequim foi um dos primeiros países que Maduro visitou após sua controversa vitória sobre o ex-candidato da oposição Henrique Capriles. Na época, a maioria dos países do Hemisfério Ocidental desconfiava do resultado, mas a China decidiu atualizar seu relacionamento bilateral com a Venezuela para uma parceria estratégica abrangente, transferindo cerca de US$ 14 bilhões para garantir o controle de Maduro no poder.
Outro exemplo ocorreu em 2018, quando o governo de Maduro venceu as novas eleições presidenciais após mudar algumas regras democráticas, como o impeachment dos principais candidatos da oposição e o cancelamento do registro de partidos políticos da oposição.
O resultado e as consequências foram os mesmos de 2013. Tanto a oposição quanto a comunidade internacional se recusaram a reconhecer a reeleição de Maduro. Enquanto isso, o presidente venezuelano teve que enfrentar a rejeição de um número importante de países, muitos dos quais não aceitaram a legitimidade de seu governo. No entanto, a China apoiou seu aliado incondicional, oferecendo seu reconhecimento diplomático e apoio econômico. Além disso, o presidente Xi Jinping recebeu Maduro em Pequim em setembro de 2018, um momento em que o líder chinês expressou seu desejo de fortalecer ainda mais as relações bilaterais.
Os desejos de Xi se tornaram realidade. Nos últimos anos, a China não apenas continuou a mostrar seu apoio diplomático e assistência econômica à Venezuela, mas também trouxe novas demonstrações de lealdade e proteção ao governo de Maduro.
Em 2019, a China usou seu veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas para impedir o reconhecimento de Juan Guaidó, ex-presidente da Assembleia Nacional, como chefe de Estado. Mais tarde, Pequim enviou medicamentos para Caracas durante a pandemia. Finalmente, autoridades chinesas autorizaram uma empresa de defesa nacional a transportar suprimentos de petróleo venezuelano para seu território, uma medida que permitiu ao governo Maduro contornar as sanções dos Estados Unidos à sua indústria petrolífera.
A China e o governo venezuelano ficaram ainda mais próximos recentemente. Desde a última visita de Maduro a Pequim, em setembro de 2023, o relacionamento bilateral foi atualizado novamente e agora é considerado uma parceria para todas as condições climáticas. E o contato entre os dois lados aumentou, trazendo novos atores, como empreendedores, governadores locais e funcionários de nível médio para o relacionamento.
Pequim também atualizou seu apoio político ao governo de Maduro. Em março, ele endossou o Conselho Eleitoral Nacional da Venezuela (CNE) em meio às críticas dos Estados Unidos sobre sua falta de transparência e parcialidade. Mais tarde, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China disse que a apreensão da Citgo, uma subsidiária sediada nos Estados Unidos da empresa petrolífera nacional venezuelana PDVSA, por Washington, foi uma interferência nos assuntos internos da Venezuela. A lição é clara: Pequim não está apenas protegendo seu aliado, mas também usando sua influência sobre o governo venezuelano para conter a influência dos Estados Unidos na América Latina.
Esta semana, o governo chinês mais uma vez deu uma injeção de ânimo ao seu aliado sul-americano. Assim que os resultados oficiais das eleições presidenciais de 28 de julho foram conhecidos, Pequim levou apenas quatro horas para reconhecer a vitória de Maduro, apesar das sérias dúvidas sobre a validade e imparcialidade do resultado. A reação da diplomacia chinesa não foi apenas rápida, mas também longe da cautela tradicional demonstrada em situações anteriores.
Mas além das considerações de possível fraude eleitoral — o resultado está sendo contestado pela principal oposição da Venezuela — a posição de Pequim revela que está disposta a apoiar os aliados que lhe asseguram progresso em direção à obtenção ou manutenção de suas metas de desenvolvimento nacional. Maduro sabe disso e, portanto, está jogando o trunfo da China para continuar ignorando os resultados expressos nas urnas no país. As informações são do jornal Valor Econômico.