A artroplastia total do quadril é a cirurgia que troca a articulação “gasta” por uma artificial: a prótese de quadril.
Geralmente a doença original é o desgaste da cartilagem, isto é, artrose ou osteoartrite. Entretanto, muitas vezes a cirurgia é realizada em fraturas do colo do fêmur, nas sequelas de fratura da bacia, nas artrites e nas osteonecroses. Geralmente a indicação ocorre nos pacientes acima de 60 anos, mas ela pode ser indicada em qualquer idade nos enfermos de esqueleto ósseo maduro.
Historicamente o grande nome médico desta cirurgia foi John Charnley que a consagrou e a idealizou.
Na década de 60 recebeu recursos financeiros, humanos e tecnológicos para encontrar a cura do número crescente de inválidos na Inglaterra. Depois de muita pesquisa, enganos e acertos, desenvolveu uma prótese composta de polietileno de alto peso molecular (para o acetábulo na bacia) e um componente femoral com cabeça metálica (para substituição do fêmur proximal).
Os componentes eram fixados com uma cola tipo Super Bonder chamada cimento acrílico, descoberta por um dentista chamado Habush em 1964.
Com a evolução da metalurgia apareceram as próteses que não utilizam o cimento. As chamadas “não cimentadas” que são fixadas pelo crescimento ósseo no interior do metal trabeculado.
O titânio e a cerâmica também se tornaram boas opções na escolha do melhor implante.
O trabalho de Charnley foi mundialmente reconhecido por sua abrangência em poder curar milhões de pessoas. Duas vezes foi indicado ao prêmio Nobel, mas não foi agraciado. Pensamento diverso foi a do governo Britânico que lhe concedeu a honraria de “Sir”.
Inúmeros trabalhos científicos comparativos indicam que a prótese total do quadril, pelo custo-benefício está incluída entre as 3 melhores cirurgias da história da medicina. Ela devolve movimentos, elimina a dor e da novo sabor a vida.
Diversos estudos, com seguimentos maiores de 20 anos, concluíram que, quase inexplicavelmente, os pacientes que foram operados com esta cirurgia tiveram sobrevida maior do que aqueles que se quer tinham a doença!
Learmonth, canadense, publicou no Lancet em 2007 um artigo histórico intitulado “The operation of the century”.
Evidentemente, como em qualquer cirurgia, existem riscos e complicações.
Esta cirurgia geralmente é mágica, mas pode ser trágica. O paciente pode vir a falecer de complicações tromboembólicas raras como a embolia pulmonar. Mais frequentemente pode ocorrer a infecção. A prótese é um corpo estranho que oferece condições ideais de crescimento de bactérias na sua superfície. Ainda existe a possibilidade da prótese sair do seu encaixe: a luxação.
Entretanto, o sucesso da cirurgia e a satisfação do paciente é na maioria das vezes maior que 95%. Provavelmente este será o desfecho da cirurgia do presidente!
Entretanto com o nosso maior atleta da história, Pelé, não obtivemos o mesmo resultado. Sequer compareceu para acender a tocha olímpica! Depois de várias reintervenções o nosso astro terminou a vida deambulando com duas muletas ou em cadeira de rodas.
Apesar da evolução da arte cirúrgica e da tecnologia, ambos precisam ter sorte: o paciente e o cirurgião!