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Geral A combinação de eventos climáticos com a tragédia do Rio Grande do Sul levou economistas a reavaliarem para cima a projeção de inflação dos alimentos este ano no País

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Estimativa para este ano é de 4,4% e de 3,6% para 2025. (Foto: Divulgação)

Passada a trégua de 2023, quando os preços dos alimentos recuaram 0,52% (algo que não se via desde 2017), estes devem voltar a ser fator de pressão sobre a inflação. Uma combinação de eventos climáticos – com um El Niño mais forte, somado aos efeitos da tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul e a uma antecipação do La Niña – e a escalada do dólar levaram bancos, consultorias e corretoras a revisarem suas projeções para este ano.

Instituições que antes previam alta de 3,5% para estes itens esperam aumento de 4,5% a 7,5% no ano nos alimentos que fazem parte da cesta de compras das famílias.

Trata-se de aumento superior ao da inflação geral, que deve encerrar o ano em torno de 3,96%, segundo o Boletim Focus. Com isso, arroz, legumes, verduras e frutas não devem ceder significativamente no segundo semestre. E até carnes e leite, que ficaram mais baratos nos últimos 12 meses, podem voltar a subir.

Para economistas, a perspectiva de preços de alimentos mais altos é um risco adicional no radar do Banco Central. A autoridade monetária, que calibra os juros na tentativa de controlar a inflação, já interrompeu o ciclo de queda da Selic na quinta-feira diante da escalada da moeda americana e riscos fiscais crescentes.

“O BC não reage aos choques primários, mas se ele estiver vendo que o preço de alimentação pode contaminar outros preços, aí entra a política monetária. Por isso, a alimentação é um risco adicional nesse cenário, já que a inflação geral pode ser maior e isso pode contaminar expectativas da inflação em 2025”, resume Alessandra Ribeiro, economista da Tendências.

Em comunicado, a autoridade monetária explica que a manutenção da Selic em 10,5% ao ano se deve ao cenário global incerto e ao cenário doméstico, marcado pela atividade aquecida e pelo aumento das projeções de inflação.

Alessandra, da Tendências, avalia que a política fiscal expansionista vem afetando o dólar, o que se reflete com certa defasagem nos preços ao consumidor e exige cautela por parte do BC.

“O BC está olhando esse cenário de riscos e preocupado com a inflação futura”, diz.

A Tendências revisou de 3,5% para 4,5% a projeção para aumento da alimentação no domicílio em 2024, puxado pelos efeitos do El Niño e pela tragédia no Rio Grande do Sul. Segundo Alessandra, o El Niño afetou a oferta de alimentos in natura como cebola e batata.

Em razão das enchentes do Rio Grande do Sul, ela espera ainda altas de preços mais persistentes de arroz, trigo e soja, e que poderá impactar indiretamente outras cadeias, como a de pães e carnes.

Luiz Roberto Cunha, professor da PUC Rio, projeta que legumes, hortaliças, verduras, frutas, frango em pedaços e óleo de soja subam mais que a média da inflação geral este ano. Parte da alta de alimentos pode vir não só do clima, mas via câmbio: “O câmbio era uma variável que não se esperava ficar muito forte até o fim do ano. Só que uma mudança de patamar de R$ 5 a R$ 5,10 por dólar para R$ 5,40 começa, sim, a afetar (inflação).”

Segundo Cunha, o ano de 2024 está rodeado de incertezas no cenário doméstico e internacional que afetam a cotação do real:É um ano difícil de avaliar. Fatores externos são muito negativos. Fatores econômicos mundiais são de restrição.”

Coordenador dos Índices de Preços do Ibre/FGV, André Braz lembra que os preços dos alimentos consumidos em casa costumam apresentar certa trégua entre maio e julho, mas não é o que tem ocorrido.

O ciclo agrícola foi bastante afetado pelo El Niño no primeiro semestre, destaca o economista, e a seca no Centro-Oeste, entre abril e maio, afetou a produção de soja e milho e pode deixar frango e ovos mais caros. No caso de itens ligados a hortifrúti, os impactos da tragédia no Rio Grande do Sul já apareceram no IPCA de maio, com alta de 0,62% do grupo Alimentação e bebidas.

Com isso, os alimentos in natura que registrariam queda nos preços nesta época do ano, ficaram mais caros. Por consequência, a alimentação no domicílio em 12 meses, que afeta mais as famílias de menor renda, está subindo e já influencia nas expectativas de inflação para este ano e 2025, diz Braz: “Isso cria uma rigidez maior na taxa de juros. Como cortar juros se a inflação deve aumentar? Isso vai forçar com que mantenhamos uma política monetária mais contracionista e isso não é bom. O juro alto pode tirar a boa fase do mercado de trabalho e diminuir o poder aquisitivo das famílias.”

Na ponta mais pessimista, Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, projeta que a alimentação no domicílio fique 7,5% mais cara em 2024 – nível mais próximo da média histórica do país, de alta de 7,3% ao ano.

Ele espera altas mais fortes neste mês em itens como leite, trigo e arroz, por causa das enchentes no Rio Grande do Sul: “A gente tem cenário bem menos rosa do que o mercado esperava no início do ano.” As informações são do jornal O Globo.

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