Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de novembro de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Umberto Eco talvez tenha dito a frase do século XXI: as redes sociais fizeram com que os idiotas perdessem a timidez. Ou algo assim. Mas, enfim, você entendeu. Genial o que disse Eco. Cada um tem um parente analfabeto que virou cientista político. São os tempos de neocavernismo. Já escrevi aqui sobre a neocaverna platônica. Agora a caverna é um grupo de whatsapp.
O colunista da Folha de São Paulo, Ranier Bragon, escreveu interessante texto com testemunho sobre o que disse Umberto Eco. Diz ele que na sessão da Câmara dos Deputados que tentou votar o Escola sem Partido, terça (13), defensores do projeto conversavam em voz alta no intervalo. E ele, de ouvinte. Atento.
Um dos temas era a “falta que há neste país de jornalistas investigativos não ideologizados”. E aí os jênios (com j) deram um exemplo dessa falta. Disse o cidadão com ar de autoridade: “O acidente aéreo que matou o presidenciável Eduardo Campos (PSB) em 2014, por exemplo. Por que os repórteres catequizados em Havana não iam atrás da suspeita de que a aeronave se chocou contra outra, poucos meses depois de o PT, curiosamente, ter comprado drones da Rússia?”
Diz Ranier, então: “Sim, para haver um pingo de sentido, seria preciso um senhor complô envolvendo um sem-fim de pessoas e instituições, incluindo Aeronáutica e Polícia Federal, todos devidamente mudos até hoje, e por aí afora —mas quem se interessa por essa abstração chamada lógica?”
Aproveito-me mais do articulista: “Teorias conspiratórias sempre existiram. O chato é que com a internet elas se reproduzem como coelhos. Aliado a isso, ocorrências históricas, como o Holocausto e a escravidão, e teorias lapidares, como a da evolução das espécies, sofrem questionamentos sem qualquer lastro.
Adeptos da falsa equivalência ainda as barbarizam sem dó ao equipará-las a trambolhos pseudocientíficos, batatadas olavo-de-carvalhianas ou teses à Ursal – tratando como ponto de vista divergente o que é só ponto de vista sem pé nem cabeça.
No decorrer dos séculos milhões de pessoas dedicaram a vida ao saber humano, à formação e compreensão da ciência e da história, em uma marcha metódica e criteriosa de pesquisas, estudos, teorias, observações, investigações, testes, tudo submetido ao contraditório e ao escrutínio da academia e do tempo.
Mas basta um tuíte da tia-avó para alguém sair cacarejando por aí que Hitler, na verdade, terminou a vida plantando bromélias na Patagônia.
O jornalismo e o ensino de qualidade têm a obrigação de expor, com equilíbrio, todos os lados de temas controversos. Só é preciso diferir, sem pudor, o que é de fato controverso daquilo que não passa de desvarios dos acadêmicos do zap-zap”.
Complemento eu: como é possível que as pessoas, nestes de tempos de hiperinformação, deixem-se seduzir pela primeira desinformação que leem? E já saem espalhando lixo nas mesmas redes sociais pelas quais recebeu o lixo. Poluição informativa.
O grande desafio é reduzir o número de idiotas, que, com a facilitação de desinformações, multiplicam-se feito ratos. Deveria haver uma multa ou imposto por cada (ups, desculpem a cacofonia) desinformação que o usuário replica ou reproduz. E uma campanha de esclarecimento poderia ajudar. O mote poderia ser “burrice não é fashion”. Ignorância cria calos nos dedos. Ou provoca rugas. Ou dor na nuca, de tanto ficar fuçando no zap-zap.
Das conspirações ou teorias bizarras que circulam nas redes, a mais gostosa é a de que a terra é plana. Não encontrei outra para disputar. Nem a de que os reptiloides já estão entre nós consegue chegar perto. Bom, pensando bem, tem uma que talvez empate: a de que Bressan é craque e vai renovar com o Grêmio. Ou ainda outra: a de que a IVI – Imprensa Vermelha Isenta – não existe.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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