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A convite de Vladimir Putin, o presidente da China fará uma visita oficial à Rússia

A viagem de três dias de Xi, será iniciada nesta segunda-feira (20). (Foto: Reprodução)

O líder máximo da China, Xi Jinping, colocou-se como estadista global ao ajudar Arábia Saudita e Irã alcançar um acordo para restabelecer relações diplomáticas ao mesmo tempo que exaltou as virtudes “da sabedoria e das soluções chinesas” na resolução dos maiores desafios de segurança no planeta. Agora, Xi se coloca no centro da guerra da Rússia com a Ucrânia, possivelmente se posicionando como mediador do encerramento do prolongado conflito.

O líder chinês deverá se encontrar pessoalmente na próxima semana com o presidente russo, Vladimir Putin, e um telefonema para o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, poderia ocorrer em seguida. A China já propôs um acordo de paz, apesar de não abordar detalhes importantes, como se as tropas russas deverão ou não se retirar. Ao anunciar a visita de Xi à Rússia, uma autoridade chinesa disse nesta sexta-feira que isso ocorre “em nome da paz”.

Em jogo para Pequim está seu esforço por legitimidade enquanto líder de uma ordem mundial alternativa à dominada pelos Estados Unidos, papel que a China tem buscado com crescente urgência para resistir ao que Xi descreveu como “contenção, cerco e supressão da China” por Washington.

Nova superpotência

Tanto a Rússia quanto a Ucrânia consideram a China uma potência com poder transformador e peso suficiente para dissolver o impasse. Mas tanto Moscou quanto Kiev são também profundamente conscientes de que Pequim é capaz de alterar fundamentalmente a dinâmica no campo de batalha se desempenhar um papel mais direto na reposição do dilapidado e exaurido arsenal de Moscou.

“A influência internacional da China enquanto grande potência talvez nunca tenha sido tão necessária quanto agora”, afirmou Shi Yinhong, professor de relações internacionais da Universidade Renmin, em Pequim, refletindo a sensação do próprio governo chinês em relação à sua importância global após o acordo entre Teerã e Riad.

Aproveitar o embalo dessa promoção e interceder na guerra poderia ajudar Xi a alcançar uma de suas necessidades mais prementes: reparar as relações de Pequim com a Europa. Com a economia chinesa em dificuldades, Xi quer evitar que a região se alinhe muito proximamente com os EUA nas restrições sobre comércio e investimento que miram a China.

Para fazer isso, afirmam analistas, Xi provavelmente precisará demonstrar que possui um impulso forte o suficiente para pôr fim à guerra da Rússia, em um movimento no sentido de explorar fissuras internas da União Europeia em relação ao esforço americano de afrontar a China. Se ele conseguir, isso poderia ajudar a satisfazer potências ávidas para ampliar o envolvimento econômico com Pequim, incluindo Alemanha e França.

“O alvo de Xi Jinping não é a Rússia nem a Ucrânia, é a Europa Ocidental”, afirmou Danny Russel, vice-presidente do Asia Society Policy Institute e ex-subsecretário de Estado americano. “Em última instância, ele está tentando montar as coisas para que, aos olhos dos alemães e dos franceses, ele tenha criado uma oportunidade.”

Moscou impõe condições duras para se sentar à mesa de negociação. Os russos rejeitaram as exigências do Ocidente de retirar suas tropas como requisito para negociar. Ao se encontrar com Xi, Putin provavelmente priorizará pedidos para o reabastecimento de seus estoques de componentes militares e aumentar suas exportações à China, para engordar o cofre de guerra do Kremlin. Isso também dará à Rússia chance de enfatizar que não está isolada da comunidade internacional.

Para a Ucrânia, a China representa há muito tempo uma possível tábua de salvação, com peso suficiente sobre a Rússia para influenciar a guerra. Zelenski, encorajado por Washington, tem buscado há meses conversar com Xi. Sua mulher, Olena Zelenska, chegou a entregar uma carta à delegação chinesa no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça.

Papel complicado

O papel da China é complicado. O governo chinês tem buscado retratar a si mesmo como um observador neutro na guerra, mas continua a prover apoio diplomático e econômico para a Rússia.

Washington alertou no mês passado que a China está se preparando para fornecer armas letais para a Rússia e ameaçou impor sanções se o negócio for adiante. Pequim negou a alegação e acusou os EUA de incitar os dois países a “conflito e confrontação”.

Analistas afirmam ser improvável que a China assuma o risco de fornecer armas e munições a Moscou a não ser que as forças russas estejam à beira do colapso. O governo chinês está preparado para apoiar Putin, mas apenas o suficiente para ajudá-lo a permanecer no poder e preservar uma frente unida contra o Ocidente.

“Pequim é agnóstico em relação ao conflito”, afirmou Aleksandr Gabuev, especialista em relações entre Rússia e Ásia do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, um grupo de pesquisa. “Os chineses querem é evitar uma derrota catastrófica dos russos, que poderia ameaçar Putin.”

A viagem de três dias de Xi, será iniciada nesta segunda-feira (20).

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