Domingo, 12 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de setembro de 2021
Ivanildo Gonçalves da Silva prestou depoimento à comissão nesta quarta-feira
Foto: Roque de Sá/Agência SenadoEm depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (1º), o motoboy Ivanildo Gonçalves da Silva, funcionário da empresa de logística VTCLog – que presta serviços para o Ministério da Saúde –, disse que chegou a sacar mais de R$ 400 mil na “boca do caixa”, em uma das retiradas de dinheiro.
As ordens para que fizesse os saques, segundo ele, eram dadas sempre por uma funcionária do setor financeiro da VTCLog, identificada pelo depoente como Zenaide. “O financeiro da empresa [Zenaide] me passava os cheques para fazer os saques e aí eu executava”, disse.
Aos senadores, o motoboy relatou que “quase todo dia” sacava dinheiro e pagava boletos, mas que ultimamente “quase não estava tendo” essas faturas para pagar. “Era boleto de combustível que eu me lembro em mente e, ao mesmo tempo, tinha fatura de cartão de pessoal da família [donos da empresa] que eu pagava. Esse era o meu papel”, acrescentou. Ivanildo negou ter entregue dinheiro vivo na mão de outras pessoas ou ter feito transferências entre contas. Ele acrescentou que as “sobras” de dinheiro dos saques eram entregues à Zenaide.
Considerado uma testemunha importante, Ivanildo despertou interesse da comissão após o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) identificar uma movimentação atípica da VTCLog no valor de R$ 117 milhões nos últimos dois anos. Desse total, o motoboy foi responsável por movimentar R$ 4,7 milhões.
Senadores estranharam o volume de dinheiro sacado. “A empresa [geralmente] liga para o gerente do banco e manda dizer que vai sacar valor tal no dia tal. Tem que ser 24 horas, 48 horas antes. O valor de R$ 430 mil não é entregue na frente de todo mundo. É entregue numa sala para que, quem queira assaltar, não veja o senhor pegando esse dinheiro todo”, observou o presidente do colegiado, o senador Omar Aziz (PSD-AM).
Outra informação trazida pelo motoboy aos senadores é de que ele esteve várias vezes no Ministério da Saúde. “Quando eu prestava serviço de entregar fatura, eu andava constantemente no Ministério da Saúde”, disse Ivanildo. “Eu não conhecia ninguém. Eu ia às salas para entregar faturas, de setores em setores”, afirmou.
O motoboy disse ainda que, certa vez, também esteve no ministério para entregar um pendrive, no quarto andar. Segundo a CPI, é nesse piso que funciona o Departamento de Logística da pasta. “Eu lembro que eu entreguei para uma senhora, uma moça lá”, afirmou o motoboy sem detalhar a data.
A CPI investiga se Roberto Ferreira Dias, que até junho deste ano era diretor de Logística do ministério, teria recebido algum tipo de vantagem indevida. Dias, que nega as acusações, virou alvo da comissão depois que foi acusado de ter pedido propina de US$ 1 por dose de vacina contra a Covid-19. Por causa disso, o relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou se o motoboy pagou boletos de Dias. “Eu não estou lembrado de ter pagado boleto nenhum dele”, declarou Ivanildo. “Nunca ouvi falar e nunca estive com ele”, acrescentou.
A CPI obteve imagens do circuito interno de uma agência do banco Bradesco, em Brasília, onde o motoboy aparece nos mesmos dias e horários que teriam sido pagos boletos em favor de Roberto Dias. Em nota, a VTClog afirmou que as imagens divulgadas pela comissão foram “maldosamente editadas”.