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A cúpula do G20 começa nesta segunda, no Rio, sob a sombra do retorno de Trump à presidência dos EUA, um líder avesso ao multilateralismo

Biden está chegando ao G20 como um presidente que já não estará mais no cargo em janeiro, quando Trump assume. (Foto: Reprodução)

A mudança na condução dos Estados Unidos deve afetar agenda global, políticas climáticas e taxação de grandes fortunas. Nesta segunda-feira (18), começa a cúpula do G20. O evento inicia sob a sombra do retorno de Donald Trump à presidência dos EUA, um líder avesso ao multilateralismo. Com o seu lema “America First” (EUA em primeiro lugar), o republicano tende a se limitar ainda mais do que no primeiro mandato em temas domésticos, além de ser abertamente refratário à discussão sobre mudanças climáticas, taxação dos mais ricos e reforma dos organismos internacionais.

Embora a reunião ocorra ainda sob a presidência de Joe Biden, que estará no Rio e confirmou a adesão à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, o futuro de acordos e decisões é incerto sob o segundo governo nacionalista do republicano.

“Biden está chegando ao G20 como um presidente que já não estará mais no cargo em janeiro. Portanto, não se pode esperar muito da visita ele”, disse Sarang Shidore, diretor do Programa Sul Global do Quincy Institute. “Biden quer transmitir a mensagem de que os EUA ainda estão interessados na mudança climática e em questões como equidade. Mas, de fato, os pontos mais altos do G-20 serão encontros bilaterais de líderes poderosos.”

Desde o início da preparação do G-20, a equipe diplomática do Palácio do Planalto tinha no horizonte que a eleição nos EUA seria decisiva. Não somente pela proximidade de datas, mas pelo impacto: o republicano é avesso a pautas que foram prioridade do Brasil, presidente temporário do grupo das 20 maiores economias do mundo.

Os sinais de Trump também são negativos quanto à reforma do Conselho de Segurança da ONU e entidades de governança financeira, como Banco Mundial, FMI e Organização Mundial do Comércio (OMC), que o republicano se esforçou para paralisar, bloqueando indicações de membros. Para assessores de Lula, o retorno de Trump seria mais prejudicial aos planos do Brasil para o G-20 do que a vinda do presidente russo, Vladimir Putin, que não ocorrerá.

Negociador do Brasil no G-20, o embaixador Mauricio Lyrio minimizou o impacto da eleição de Trump e destacou que os principais resultados da reunião, ligados aos objetivos do Brasil, já estavam selados, a exemplo da mobilização contra a fome e a pobreza. A Casa Branca confirmou a participação na iniciativa. O Itamaraty considera que, pelo menos para a cúpula do Rio, a mudança não será grande, mas admite que exigirá mais esforço de negociação no futuro.

“Um dos objetivos da presidência brasileira foi centrar em resultados concretos em torno de temas mais capazes de angariar consenso. Não há país que considere que retirar 733 milhões de pessoas da situação de fome seja algo negativo”, disse Lyrio.

O cientista político Mauricio Santoro concorda que a agenda da fome e pobreza é a única que deve avançar, já que os demais temas tendem a ser esvaziados. “A pobreza e a fome são temas menos controvertidos”, disse.

Divergências com Trump

No bastidor, o governo brasileiro reconhece as divergências com Trump e o esvaziamento da presença de Biden. Há risco de o republicano desfazer acordos fechados com o democrata. Não seria algo inédito. Acordos em assuntos como desenvolvimento sustentável, transição energética e mudança do clima tendem a ser prejudicados. No primeiro mandato, Trump retirou os EUA do Acordo de Paris e rejeitou dados científicos sobre o aquecimento global. Agora, promete incentivar a exploração de combustíveis fósseis.

“A gente não sabe se ele vai repetir esse gesto (sair do Acordo de Paris), mas é provável que, mesmo que isso não aconteça, o tema ambiental caia na lista de prioridades”, afirma Santoro.

Trump participou de todas as cúpulas do G-20 durante seu mandato, de 2017 a 2021.

Na última, a de Osaka, no Japão, em 2020, os EUA se dissociaram da declaração no trecho sobre mudança climática. Foi inserido um parágrafo dedicado à posição de Washington que justificava o abandono do Acordo de Paris por seus “prejuízos aos trabalhadores e contribuintes americanos”.

Segundo o embaixador Lyrio, problemas em declarações conjuntas são considerados normais na diplomacia. “Dificuldades de países com determinada linguagem e determinados temas são normais, fazem parte da natureza das reuniões internacionais e da elaboração de documentos.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

 

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