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A curva de mortes por coronavírus “estaciona” em patamar alto demais e preocupa cientistas

Vírus se espalha de diferentes formas em cada região do Brasil. (Foto: Reprodução)

Um país de diversas faces e uma só doença. O Brasil que, até terça (8), contabilizava 68.055 mortes por coronavírus, vê a Covid-19 disseminar-se de diferentes formas em cada região.

A média de óbitos cresce vertiginosamente no Sul, atinge uma vacilante estagnação no Sudeste e cai em poucos Estados, como Amazonas, Pará e Rio de Janeiro. O diagrama nacional dos casos fatais segue reto há mais de um mês. O problema é que estacionou em um nível alto demais, um comportamento que não foi visto na maioria das outras nações.

A análise dos dados foi feita a partir do levantamento do consórcio de veículos de imprensa formado por O Globo, Extra, G1, Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo, que reúne informações das secretarias estaduais de Saúde.

Mesmo os Estados que conseguiram reduzir a média de óbitos devem seguir cautelosos. No Ceará, por exemplo, a queda do índice de mortes foi interrompida conforme a Covid-19 avançou para o interior. Já o Rio de Janeiro pode ser motivo de novas preocupações nas próximas duas ou três semanas, diante do agravamento do quadro de saúde de pessoas que estariam sendo infectadas atualmente, quando a capital fluminense passa por um período de relaxamento social.

“A passagem do pico da doença gera um impacto psicológico de que o pior já passou, mas o coronavírus ainda está lá, principalmente entre os mais pobres e no interior”, atenta Christovam Barcellos, sanitarista da Fiocruz. “Em todo o mundo, a curva de óbitos é assimétrica, desce do pico com uma velocidade muito menor do que chegou a ele.”

Barcellos ressalta que a chegada da Covid-19 no País levou prefeitos e governadores de todas as regiões a adotar medidas semelhantes de isolamento social. A doença, no entanto, conseguiu penetrar fortemente, ainda em março, em Estados como Amazonas, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo.

Nos meses seguintes, enquanto estes Estados ainda se recuperavam do baque, outros passaram a relaxar o cinto — caso, entre outros, de Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná. Agora, o número de óbitos destes Estados catapultou. Barcellos avalia que nesses locais predominou uma sensação de que a pandemia estava sob controle, uma vez que as principais cidades do País já passavam por uma redução do índice de casos e mortes.

“Os Estados iniciaram políticas de isolamento no mesmo momento e tentaram relaxá-las simultaneamente, ignorando que o pico da pandemia não é sincronizado”, ressalta. “A média diária de mortes em todo o País é estável porque, enquanto a situação melhora em alguns Estados, piora em outros. Registramos mais de mil casos fatais por dia. Isso é gravíssimo.”

Doutor em Epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Paulo Petry atribui a desorientação dos Estados à falta de diretrizes nacionais. Durante a pandemia, o ministro da Saúde Luiz Mandetta foi exonerado e seu substituto, Nelson Teich, pediu demissão. A pasta é ocupada interinamente há mais de 50 dias pelo general Eduardo Pazuello.

“Perdemos dois ministros e não colocamos ninguém. O Executivo federal deveria correr atrás de insumos, medicamentos, criar novos leitos de UTI e ampliar a testagem.”

Vacinas e testes

Segundo Petry, 38% da população brasileira têm pelo menos uma das comorbidades que podem levar os pacientes à morte por Covid-19, como diabetes e hipertensão. Parte desse contingente está entre os idosos. O País conta com mais de 30 milhões de pessoas acima de 60 anos. Pessoas abaixo desta faixa etária também podem fazer parte do grupo de risco.

“Nossa esperança são as vacinas que serão testadas no Brasil e a transferência de tecnologia de suas fabricantes”, diz o epidemiologista. O Instituto Butantan, em São Paulo, tem um acordo firmado com a empresa chinesa Sinovac, e a Fiocruz, no Rio, trabalha com uma imunização idealizada pela Universidade de Oxford.

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