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A decisão da China de proibir excursões por causa do coronavírus deve afetar a Olímpiada de Tóquio e o turismo na Ásia

Cancelamento reduziria crescimento anual do PIB do Japão em 1,4%. (Foto: Reprodução)

A decisão de Pequim de proibir excursões de chineses ao exterior para tentar conter a expansão do coronavírus pode afetar significativamente o turismo mundial, começando com alguns países asiáticos que dependem principalmente dos visitantes chineses.

Na China, até o momento, 106 pessoas já morreram devido ao novo coronavírus. Já surgiram casos em quatro continentes.

O número de turistas chineses no exterior aumentou quase dez vezes desde 2003, ano da epidemia de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), outro coronavírus, informou o consultor Capital Economics em relatório.

O temor do coronavírus já tem afetado o desempenho dos mercados globais e o preço do petróleo. O PIB da China também pode ser impactado, diz a agência de classificação de risco S&P.

Agora, tem-se o efeito sobre a economia dos países vizinhos. No Japão, por exemplo, a meta  receber 40 milhões de visitantes este ano, quando será realizada a Olimpíada de Tóquio, pode estar em risco com as restrições às viagens de chineses.

Antes considerado um local pouco atraente para o turismo devido aos preços elevados e ao fato de poucas habitantes falarem línguas estrangeiras, o Japão conseguiu mudar sua imagem graças aos esforços do primeiro-ministro de Shinzo Abe.

Depois que o governo reduziu as exigências de visto, o número de turistas no Japão quase quadruplicou desde 2012, para 31,9 milhões, dando ímpeto a setores como cosméticos, bens de consumo e hospitalidade.

A meta original do governo para este ano, de atrair 20 milhões de visitantes, foi batida em 2015, sendo logo dobrada. Esse objetivo, agora, é uma dúvida.

Quase um terço dos turistas chineses que foram ao Japão em 2018 fazia parte de excursões de agências de viagem, segundo dados do governo japonês. São precisamente esses grupos que foram alvo da proibição de Pequim.

os chineses se converteram no primeiro contingente de turistas estrangeiros no Japão desde da flexibilização das restrições de vistos em 2015. Segundo dados da Organização Japonesa de Turismo (JNTO), passaram de menos de 450 mil, em 2003, para cerca de 8,4 milhões – sem contar os cidadãos de Hong Kong – ,  em 2018, cerca de 27% do total de visitantes estrangeiros no Japão.

Impacto maior que o do SARS 

Os gastos dos visitantes chineses foram um dos pontos altos da indústria japonesa do turismo no ano passado. Eles superam em número os turistas de qualquer outro país, e seus gastos no Japão cresceram 15% em 2019, para 1,77 trilhão de ienes (US$ 16,2 bilhões), respondendo por 37% do total.

Isso ajudou a compensar a queda brutal da receita com turistas da Coreia do Sul, que superou os 60%, em meio a uma briga de origens históricas que atingiu o comércio e os investimentos entre os dois países.

Uma série de tufões que atingiram áreas metropolitanas em 2018 e 2019 também afetaram o turismo, devido aos prejuízos na infraestrutura de cidades como Tóquio e Osaka.

No fim de semana, visitantes estrangeiros eram vistos comprando máscaras aos montes em Asakusa, bairro de Tóquio. Na loja de departamentos Mitsukoshi, no bairro chique de Ginza, um dos favoritos dos turistas chineses, havia menos pessoas comprando cosméticos que o normal.

O impacto do coronavírus para a economia japonesa pode até ultrapassar o da epidemia de SARS, em 2003, devido ao aumento do número de turistas nesse período, segundo estimativa dos economistas Shuji Tonouchi e Lee Chiwoong, da corretora Mitsubishi UFJ Morgan Stanley, em relatório divulgado antes de a proibição de viagens em grupo ser anunciada.

“Se o novo vírus da China se espalhar mais e atingir uma escala semelhante à de 2003, projetamos que o impacto negativo de uma queda na entrada de turistas no Japão pode ultrapassar o observado em 2003”, afirmaram.

“Nesse caso, estimamos que haverá um impacto negativo global no PIB do Japão, mesmo considerando que menos japoneses viajarão ao exterior.”

Efeitos sobre economia tailandesa

A economia da Tailândia também deve enfrentar novas turbulências. Os turistas chineses – que viajam, em sua maioria, em excursões – gastaram quase US$ 18 bilhões na Tailândia no ano passado, mais de 25% da receita com visitantes estrangeiros no país, segundo dados do governo.

A indústria turística contribui com 21% do Produto Interno Bruto (PIB) tailandês, de acordo com World Travel & Tourism Council.

Tanto o turismo como as exportações já estavam sob pressão devido a uma recente valorização da moeda tailandesa. Nos últimos meses, o governo anunciou medidas de estímulo de mais de US$ 10 bilhões. O Banco da Tailândia, o BC do país, estima que a economia tenha registrado em 2019 o menor crescimento em cinco anos.

“Uma epidemia de coronavírus é um risco”, afirmou em nota Tim Leelahaphan, economista do Standard Chartered Bank. “Um baht tailandês mais valorizado também afeta o crescimento do turismo.”

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