Terça-feira, 22 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2020
Apontada pela Polícia Civil como mandante da morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, Flordelis dos Santos de Souza, de 59 anos, foi denunciada à Justiça por cinco crimes, mas não foi presa na Operação Lucas 12 porque tem imunidade, por ser parlamentar. Ela foi eleita deputada federal em 2018, tendo como uma de suas principais bandeiras a desburocratização da adoção no Brasil. Ela ficou conhecida por afirmar ser mãe de 55 filhos, a maioria deles apenas afetivos, sem que tenham sido formalmente adotados.
A parlamentar relata que sua história de acolhimento de crianças e adolescentes teve início no início dos anos 1990, quando ela ainda vivia na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, onde nasceu e foi criada. Flordelis afirma que, em apenas uma noite, acolheu 37 crianças que tinham fugido de uma chacina na Central do Brasil, no Centro do Rio.
Foi no Jacarezinho que Anderson e Flordelis se conheceram. Quando o casal começou a se envolver, ela tinha 30 anos e ele, que também morava na comunidade, 14. Inicialmente, ele passou a frequentar a casa de Flordelis, que já fazia um trabalho com jovens na comunidade, mas acabou se apaixonando por ela. Na época, Flordelis estava recém-separada do primeiro marido.
Flordelis nasceu e cresceu no Jacarezinho. Aos 14 anos, perdeu o pai e um irmão, mortos em um acidente de carro. Trabalhou como balconista em uma padaria e acompanhava a mãe, Carmozina Motta, em uma rotina evangélica, da qual participava cantando e tocando guitarra.
Quando conheceu Anderson, a missionária já tinha três filhos biológicos do primeiro casamento e que viviam com ela – Simone, Flávio e Adriano. Anderson fugia do perfil dos outros jovens acolhidos pela pastora. Eles, em geral, tinham problemas familiares ou parentes envolvidos com o tráfico. Já Anderson, também nascido e criado na favela, vivia com os pais e estava concluindo o ensino médio no Colégio Pedro II de São Cristóvão, uma escola pública de tradição e qualidade. Poucos meses antes, havia conseguido um trabalho como jovem aprendiz no Banco do Brasil.
Desenvolto e articulado, Anderson tornou-se líder do grupo de jovens da igreja tocada por Flordelis e por dona Carmozina Motta na Rua Santa Laura, no Jacarezinho. A pastora foi sua segunda namorada, de acordo com o relato da mãe, Maria Edna do Carmo. O primeiro namoro foi com Simone, filha biológica de Flordelis, que tinha três anos a menos que ele.
Anderson logo assumira a função de administrador da casa. Era visto, entre os jovens do Jacarezinho que chegaram à casa com ele, como um irmão mais velho, uma liderança, apesar de até ser mais novo que um deles, Carlos. Tinha uma estratégia criativa para levantar dinheiro usando a imagem de pastora de Flordelis.
Com a ajuda de Wadner Andrade Pimenta, o Misael, morador do Jacarezinho que também chegou à casa na adolescência, gravava os cultos ministrados por ela e fazia cópias em CD e DVD para vender nas igrejas por onde passavam. Eles carregavam consigo um portfólio de Flordelis, com matérias de jornais sobre ela.
Anderson saía pelas ruas com uma maleta prateada nas mãos, na qual levava o material das pregações de Flordelis para vender. Os outros familiares cuidavam das tarefas domésticas. Não demorou para as doações começarem a chegar. Um dos dois quartos da casa ficava tomado por elas. Sobrava o outro para que todos dormissem. Mas havia ainda jovens que se espalhavam pela sala e pela cozinha. Foi nessa época que a mãe de Anderson, Maria Edna, insistia, com frequência, para que o filho voltasse para casa. Em resposta, ouvia que ele precisava “se dedicar à obra do Senhor”.
Como a situação de muitas das crianças não era regularizada, Flordelis fugiu de diversas fiscalizações da Vara da Infância e Juventude ao longo dos anos 1990 e a família passou por diversos endereços. Na época, dizia que era perseguida. Em 1999, Anderson e Flordelis fundaram sua primeira igreja, no bairro do Rocha, Zona Norte do Rio.
Também fundado na Zona Norte do Rio, o Ministério Flordelis foi transferido no início dos anos 2000 para São Gonçalo. Chegou a ter cinco filiais, além da sede, no bairro Mutondo. O auge da popularidade de Flordelis foi um documentário de 2009 (Flordelis – Basta uma palavra para mudar), que narrava como ela se tornara mãe de 55 filhos. O filme foi um trampolim para seu lançamento no mundo da música e, em seguida, no meio político. As informações são do jornal Extra.