Costumam dizer que Ciro Gomes é inteligente. Uma inteligência ele tem: a da fala articulada. Não é pouco, mas ele está longe de reunir outras qualidades essenciais, que é justo esperar de um candidato a presidente da República.
O cidadão informado, consciente, capaz de formular um pensamento analítico, que não se deixa dominar pela emoção, escolherá na urna o candidato que acumular as virtudes essenciais ou o maior número delas: conhecimento do Brasil, experiência administrativa, honestidade pessoal, autocontrole, resiliência, capacidade de se relacionar com o Congresso, e outras mais.
Dizendo de outro modo, o eleitor consciente votará naquele que achar o melhor, que vem a ser rigorosamente o mesmo que o menos pior. Volto a Ciro. A sua fala é sedutora. O português é escorreito, os raciocínios fluem, ele nunca vacila. Um olhar distraído, um descuido, e ele encantará uma serpente. Mas é suficiente para merecer o voto? Para muita gente, não.
Faltam-lhe outros atributos. Falta-lhe, por exemplo, um mínimo de lealdade, de constância na vida partidária. É muita coisater passado em sete partidos. Ele saltita em breves passagens aqui e ali, como se nenhum dos partidos fosse digno de ter, nas suas fileiras, tão admirável personagem. Ciro não deita raízes, e nada perdura nas suas relações. À menor objeção, ele muda, se transfere para outro, vira a casaca. Ciro é um doidivanas partidário. E que eu saiba não deixou saudades nos partidos que ele abandonou.
Com o PMDB, o PSDB e o DEM, ele costuma expelir toda a verve ferina e sua infinita capacidade de ofender e lançar impropérios. Não é à toa que ele é réu de mais ou menos 50 ações de injúria, calúnia e difamação. Ciro mostra uma face mais do que mal educada, raivosa e intolerante. A raiva, a intolerância, o calão, não são, decididamente, boas companhias para governar o país.
E fala articulada, ademais, não é fala certa. Ciro vomita números e estatísticas em profusão e em confusão, teorias com as palavras muito bem alinhadas, mas que olhadas de perto, não passam de miragens, imprecisões e meias verdades, que são também meias mentiras. Como diz Míriam Leitão, Ciro e números são seres que sempre estão em desencontro.
Como dar fé a alguém que, a estas alturas, nega a existência de uma crise na previdência social brasileira? Que senso de medida pode ter um homem que ameaça, em certa circunstância, receber a turma de (Sérgio) Moro à bala? Como levar a sério quem atribui a tragédia venezuelana à oposição “fascista e golpista”? Que chama um eleitor de burro, que agride um vereador negro e homossexual com o epíteto de capitão do mato? Que semana sim e outra também perde a estribeira e se deixa levar pelo temperamento irascível?
Para deixar barato e dizer o mínimo, Ciro Gomes não é muito centrado. Se tem algo que o Brasil não precisa, nesta conjuntura atomizada, nesta quadra convulsionada, é de alguém tão cioso de suas certezas, voluntarioso e instável, confuso e contraditório, inábil, impaciente e incapaz de agregar talentos e vontades para a grande tarefa de governar e tirar o país da crise.