Quinta-feira, 23 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de agosto de 2019
Mikael Odder Nielsen não tem formação profissional em saúde, mas desde 1º de outubro de 2016 coordena um tratamento para pessoas com depressão, ansiedade e estresse na cidade de Aalborg, na Dinamarca. Batizado de Kulturvitaminer, ou “vitaminas de cultura”, o programa oferece aos pacientes encontros com profissionais de diversas áreas artísticas que os ajudam a tirar o foco da doença e incentivar a autoconfiança.
Nesse quesito, Nielsen tem muita experiência: formado em musicologia, ele já trabalhou durante oito anos com jovens vulneráveis. “Usei a cultura, e a música em particular, para renovar a energia deles, construir a autoconfiança e fortalecer a abilidade deles em serem mestres de suas próprias vidas”, contou o dinamarquês.
Desde que foi lançada, a iniciativa já recebeu 260 pacientes, principalmente por indicação de centros de empregabilidade locais, e a ideia é que ele atenda cerca de 100 pessoas por ano. “A [Organização Mundial da Saúde] prevê que o estresse e a depressão serão duas das maiores causas de doença no ano 2020. Mais e mais pessoas têm saúde mental precária. Por isso é importante fazer esse trabalho, disse Mikael Nielsen.
“Pílulas de cultura”
No projeto mantido pelo Centro de Saúde Mental do Departamento de Saúde e Cultura de Aarlborg, as atividades do Kulturvitaminer acontecem três vezes por semana durante um período de dez semanas.
“Os cidadãos conhecem guias culturais muito competentes, bem preparados e dedicados que oferecem uma ‘pílula de cultura’ para botar de novo um sorriso no rostos deles, conseguir apoio e fé em si mesmos”, explicou o musicólogo.
Nielsen diz que são oito as atividades principais: em uma biblioteca, os pacientes fazem leituras coletivas e compartilham de forma aberta seus pensamentos, memórias, ética e moral da história lida. “Não existe resposta errada”, destacou o coordenador.
O grupo também integra um coral, cantando junto e compartilhando da sensação de estar em comunidade e pertencer a um grupo. Nielsen ressalta que cantar estimula o cérebro a promover dopamina, um antídoto para os hormônios do estresse.
As visitas também levam os pacientes ao arquivo histórico da cidade, com passeios pelas ruas e uma introdução à genealogia dos moradores. “Isso lhes dá uma filiação, o sentimento de que pertencem a um lugar.” Escutar música é outra das atividades, usando um app com músicas calmantes que levam as pessoas a “fazer uma pausa, aprofundar a ponderação e as ajudam a pegar no sono”.
Um tour de um teatro também está dentro do programa, incluindo subir ao palco, conhecer as coxias e bastidores e acompanhar oficinas por trás dos panos, incluindo uma de linguagem corporal com dois atores.
O grupo ainda assiste à experiência de ver uma sinfonia de música clássica ao vivo. “Isso se encaixa com muitas emoções dos participantes”, disse Nielsen. “Aqui, falamos sobre a catarse – um refinamento do cérebro produzido pela arte.” Museu de arte é outro destino do cronograma, incluindo explicações sobre arte moderna, onde o tema é a arte que se vê e o efeito que ela tem nos pacientes, e quais emoções ela desperta.
O tratamento não deixa, ainda, de promover a conexão com a natureza, incluindo caminhadas pelas áreas naturais da cidade. Trata-se, segundo o coordenador, de “experimentar a natureza como um espaço livre, onde você não precisa pensar em coisas cotidianas, você pode apenas ser”.
Resultados
Todo o processo é voltado a despertar nos pacientes sentimentos ligados à autoconfiança e ao pertencimento a um grupo, para que eles renovem sua energia de participar da sociedade. Isso ajuda a tirá-los de círculos viciosos como o isolamento, que os faz perderem empregos e amigos, e os afunda ainda mais na solidão e no sentimento de inaptidão. “Os resultados são promissores”, destacou Nielsen. “Muitos deles voltaram a se aproximar novamente do mercado de trabalho e completaram estágios.”