A direção do Palácio de Versalhes, sede luxuosa do casamento do ex-presidente executivo da Renault-Nissan Carlos Ghosn em Paris (França), declarou desconhecer que a realização da festa, inspirada na rainha Maria Antonieta, foi um evento privado e não uma cerimônia empresarial.
Em um e-mail enviado à agência Bloomberg, a administração do edifício histórico, pertencente ao governo francês, alegou que nenhum documento indicava que a cerimônia teria outra natureza que não o institucional. A mensagem ressalta, ainda, que as responsabilidades do palácio não incluem a identificação de convidados, salvo por motivos de segurança.
A Renault sinalizou às autoridades francesas a utilização do palácio pelo executivo brasileiro porque a cerimônia se referia a um “benefício pessoal” equivalente a 50 mil euros (cerca de R$ 210 mil) relacionado a um contrato de parceria corporativa.
Embora a porta-voz da família Ghosn tenha afirmado na última semana que o ex-presidente executivo devolveria o montante, o episódio lançou luz ao seu estilo de vida ostensivo e representou o primeiro caso de conduta inadequada revelado pela montadora francesa. O “titã” da indústria automobilística está preso no Japão desde 19 de novembro por crimes financeiros, negados por Ghosn.
Festa de aniversário também na mira
Em 2016, a Renault assinou um acordo no valor de 2,3 milhões de euros (R$ 9,7 milhões) com o Palácio de Versalhes para a restauração do Salão da Paz, que compõe a famosa ala da Galeria dos Espelhos, segundo declarou sua administração. O contrato assinado com a companhia permitiria que a empresa utilizasse o espaço em eventos de relações públicas de forma a compensar o valor equivalente a um quarto da doação.
Também na semana passada, o palácio confirmou que outra festa foi realizada nas suas instalações, em 2014, no valor de 160 mil euros (R$ 670 mil) e que nenhuma documentação do evento indicava outra natureza senão a institucional. O jornal francês “Les Échos” afirma que a cerimônia de 200 convidados serviu ao aniversário de 60 anos de Carlos Ghosn, embora tenha sido oficialmente anunciado como um evento corporativo da Renault e sua parceira nipônica Nissan.
A hipótese foi negada pelo porta-voz da família do brasileiro. Na ocasião, ele afirmou que nenhum familiar se lembra de qualquer bolo ou menção ao aniversário na cerimônia, e que a celebração pelos 60 anos de Ghosn ocorreu no dia seguinte em Paris, no Palais de Tóquio.
Depois de sua prisão no Japão, o empresário foi destituído pela Nissan e pela Mitsubishi, outra fabricante japonesa que integra a aliança com a Renault. No mês passado, Ghosn renunciou como presidente da montadora francesa, cuja maioria das ações é controlada pelo governo da França.