Os conservadores vieram para ficar. Antes de Bolsonaro, eles simplesmente tinham vergonha de dizer que pertenciam ao campo da direita. Nestes últimos anos saíram do armário, por assim dizer.
Não aportaram à cena política organizados. Vieram aos trancos e barrancos e em pouco tempo firmaram posição: são, sim senhor, protagonistas. Existem, elegeram seus pró-homens e líderes. Se manifestam no Parlamento, nas ruas. Não se os pode ignorar.
Já existiam antes? Sim, mas em silêncio. Era o que costumava denominar de “maioria silenciosa”, quando as esquerdas dominavam as ruas. Resolveram romper o silêncio e desfraldar ruidosamente suas bandeiras. Passaram os olhos em livros, como nunca haviam feito, e descobriram Olavo de Carvalho, que lhes transmitiu as primeiras lições, o ABC do conservadorismo e da direita. Uma pena: não poderiam ter guru tão desqualificado.
Eles poderiam vir de outras vertentes. A posição política de direita, conservadora, não precisa ser reacionária, golpista, autoritária, racista, misógina, homofóbica. A direita não precisa ser fascistoide.
Não há nada a opor, em princípio, a alguém que , sendo conservador, seja ao mesmo tempo um democrata, isto é, a favor de eleições diretas e livres para escolha de governantes e representantes, do pluripartidarismo, da alternância do poder, da liberdade de expressão e pensamento, da liberdade da imprensa, da harmonia e independência dos poderes, do Estado de Direito, do império da lei.
Partindo de tais pressupostos é legítimo que o cidadão seja a favor da propriedade privada dos meios de produção, o direito e a liberdade de empreender, o Estado mínimo, o equilíbrio e a responsabilidade fiscal, isto é, que o Estado, em todas as suas instâncias não gaste além do que pode arrecadar. Com tais premissas, não é nenhum acinte ser contrário às cotas raciais, às políticas públicas e de concessão de benefícios como o Bolsa-Família, ProUni, etc.
Você pode discordar dessa visão de mundo, mas aqueles que a escolhem têm o mesmo direito dos seus oponentes progressistas e de esquerda de defendê-la e professá-la. É sobre esses pressupostos que a democracia funciona ou, ao menos, deve funcionar.
No embate político, no entrechoque das ideias, ninguém é obrigado a abrir mão dos seus valores e princípios, e ninguém tem o direito de impô-los aos demais. Na democracia, ninguém pode se arvorar de ser ou saber mais do que os outros – ninguém é detentor de superioridade moral sobre os outros.
Tais considerações são inúteis no estágio de luta política em que estamos. Os contendores, à esquerda e à direita, movem suas pedras no jogo político ignorando as normas mais comezinhas de respeito e tolerância entre si. Não são adversários da arena da política, são inimigos brandindo espadas e cuspindo fogo.
Os apelos à concórdia e à paz, a ideia da unidade nacional, tudo se perde no pandemônio de ataques e xingamentos, quando não da violência física, e ninguém, de lado algum, acena com a bandeira branca. Tudo poderia começar pelo reconhecimento de que o outro, o adversário, existe e têm o direito de existir.