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A educação financeira ajuda, mas não é suficiente para afastar crianças e adolescentes do vício nas apostas pelo celular

Uma investigação revela que o esquema inunda a internet com sites que oferecem jogos como o do “tigrinho” sem regras claras. (Foto: Joédson Alves/Agência Brasil)

A educação financeira ajuda, mas não é suficiente para afastar crianças e adolescentes do vício nas apostas online. É o que afirmam os próprios especialistas.

“Há uma pressão grande de influenciadores, o futebol, a facilidade, o hábito de usar celular, e ainda a ilusão de gratificação imediata. O caminho está aberto demais”, salienta a doutora em psicologia econômica, consultora e membro do comitê de pesquisa da International Network for Financial Education da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Vera Rita de Mello Ferreira. “Educação financeira não é a salvação da lavoura.”

Ela explica que, sim, é preciso educar crianças e jovens a usar conscientemente o dinheiro porque são hábitos mais fáceis de serem trabalhados cedo. No caso dos jogos de azar, porém, é preciso “bombardear” com informações sobre pessoas que se endividaram e de como eles são estruturados para que, sempre, se perca mais do que se ganhe.

De acordo com a especialista, as políticas públicas precisam olhar para questões de psicologia, do comportamento, de regulamentação, de proteção do consumidor e também de como é feita a arquitetura para atrair a população de todas as idades para as apostas. Caso contrário, só informação não resolve. “É como o bilhete da loteria que está escrito atrás a chance de ganhar: 1 em 50 milhões. Ninguém deixa de apostar por isso.”

As ciências do comportamento mostram como o cérebro vai em busca de recompensas intermitentes, como nos mecanismos de apostas, em que ganhos são intercalados com perdas. No caso das crianças, diz Vera, há ainda o fato de que elas entendem o jogo como brincadeira e não compreendem o valor real do dinheiro. “Tem ainda o efeito de manada: ‘todo mundo joga na escola e não quero ficar de fora’. E o desafio de aprender a fazer aquilo, é como aprender a amarrar sapato, ele quer saber os macetes”, completa.

Para Vera, uma das soluções seria grandes campanhas com “marketing de sinal trocado” mostrando histórias de pessoas que tiveram muitos problemas com o jogo. “É preciso juntar forças, famílias e escolas, com regulamentação, trabalho com influenciadores, com adolescentes que são considerados líderes.”

Em nota, o Ministério da Educação diz que a educação financeira faz parte da Base Nacional Comum Curricular. Já a pasta da Saúde informou que tem ampliado o atendimento a pessoas com problemas de saúde mental, incluindo o jogo patológico para crianças e adolescentes. (AE)

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