Sexta-feira, 15 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 17 de julho de 2024
Com o bolso do consumidor mais curto e o forte crescimento de programas de pontos no Brasil, a emissão de passagens aéreas por meio de milhas disparou. Empresas batem recordes em vendas, com os programas sendo uma alternativa para o passageiro economizar ante o cenário de bilhete mais caro.
Contudo, o setor está em alerta. Há debates envolvendo a regulamentação do benefício no Congresso e, segundo a indústria, poderia acabar com os programas no formato de hoje.
Dados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (ABEMF) apontam que o número de clientes cadastrados em programas de fidelidade no Brasil mais do que dobrou de 2019 para 2023, totalizando 312,5 milhões. No total, os resgates no ano passado totalizaram 505,7 bilhões de pontos, contra 265,1 bilhões
em 2019. Apesar das diversas formas de se usar o benefício, o ecossistema de passagens aéreas ainda representa 82,2% do destino dos pontos.
Na Latam, a empresa registrou recorde na emissão de passagens com milhas no primeiro semestre deste ano, totalizando 2,5 milhões de passagens no mercado brasileiro, alta de 14% contra o mesmo período do ano passado, contou Martin Holdschmidt, diretor-geral do Latam Pass.
O maior salto em resgates dos brasileiros no Latam Pass veio das passagens internacionais, com 425 mil bilhetes emitidos com pontos, alta de 61% ante o primeiro semestre de 2023. No doméstico, grande maioria dos resgates, o crescimento foi de 7%. “Quando a gente conversa com os clientes, o que eles buscam com o programa é passagem aérea, mas também uma melhor experiência. E é o que
a gente vem investido”, disse Holdschmidt. O grupo relançou recentemente o aplicativo do programa, com melhorias de sistema.
Enquanto isso, na Smiles, da Gol, o resgate de milhas no primeiro trimestre do ano cresceu 18%. Carla Fonseca, CEO da Smiles, contou que a indústria tem crescido com o cliente conhecendo mais os benefícios. No primeiro trimestre deste ano, cerca de 200 mil clientes resgataram algo na Smiles pela primeira vez.
“Vemos crescer muito rápido as novas formas de acúmulo. Se olharmos só a parte do e-commerce da Smiles [compra de produtos em dinheiro e recompensa de pontos] ela cresceu cinco vezes de 2019 para cá em milhas acumuladas. Isso alimenta o ecossistema”, disse Fonseca.
A executiva da Smiles destacou que uma das oportunidades é incentivar cada vez mais a transferência dos programas de bancos para os programas das aéreas. Segundo dados do Banco Central, um total de 30,1 bilhões de pontos expiraram em 2023. O número representa uma queda de 14% contra 2022, mas ainda assim é um volume gigantes e que o setor olha de perto – apenas a critério de comparação, a Smiles tem hoje um “estoque” de 100 bilhões de milhas.
Já o Azul Fidelidade, programa da Azul, viu um salto de 20% no resgate de passagens com pontos no primeiro semestre deste ano contra 2023. “A disponibilidade de assentos promocionais, além de incentivo para compras com mais antecedência são fatores que colaboraram para o crescimento”, disse a empresa, em nota. Em 2023, a empresa bateu recorde em resgates.
Os pontos acabaram virando uma alternativa ao passageiro que quer continuar viajando mesmo diante da maior tarifa aérea. Mas os resgates com milhas também ficaram mais caros. Segundo dados da Latam, um total de 41,7% das passagens emitidas no primeiro semestre deste ano nos voos domésticos foram comercializadas abaixo de 10 mil pontos o trecho. Em igual período de 2019, esse percentual representou 73,33%. O volume de milhas, entretanto, acaba sendo mais fácil de se juntar hoje, com diversas outras formas de se pontuar – como compras no varejo com bônus – para além dos gastos com cartão de crédito.
Apesar das boas sinalizações, a indústria atravessa uma forte turbulência provocada pela recuperação judicial da 123milhas, que abraça também a Maxmilhas – empresa que fez fama ao intermediar a comercialização de milhas, algo proibido pelo regulamento das aéreas. Diante dos milhares de consumidores prejudicadas, o Congresso passou a escrutinar o segmento e estuda uma regulamentação.
“O que eles [Congresso] discutem no projeto de lei, nada que está lá iria proteger o consumidor do que aconteceu com a Maxmilhas. Quando a gente fala do PL [2767], que está com requerimento de urgência, o que está sendo proposto acaba com os programas de fidelidade que existem hoje”, disse Holdschmidt, que assumiu a
presidência da ABEMF neste ano.
O deputado Jorge Braz (Republicanos-RJ), relator do PL 2767, disse que há debates em andamento com todos os atores do mercado. “Os grandes desafios são relacionados à proteção do consumidor. O que queremos é trazer segurança jurídica através da transparência”, disse.
Entre as propostas do texto está uma validade mínima dos pontos/milhas de 30 meses. Os pontos que forem comprados pelo cliente não perderão validade. O deputado não deu previsão para a tramitação do texto, que terá de passar pelo Senado.