A empresa RQ Serviços Aéreos Especializados Ltda., dona do helicóptero de matrícula PT-HPG que caiu nesta segunda-feira (11) no acidente que matou o jornalista Ricardo Boechat, 66 anos, não estava autorizada a fazer o serviço de táxi aéreo, ou seja, a transportar passageiros de forma remunerada, segundo a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
A empresa estava certificada para prestar SAE (Serviços Aéreos Especializados), que incluem aerofotografia, aeroreportagem e aerofilmagem. “Qualquer outra atividade remunerada fora das mencionadas não poderia ser prestada. Tendo em vista essas informações, a Anac abriu procedimento administrativo para apurar o tipo de transporte que estava sendo realizado no momento do acidente”, afirmou a Anac, em nota.
A agência informou que o helicóptero estava em situação regular, com “Certificado de Aeronavegabilidade válido até maio de 2023, e a IAM (Inspeção Anual de Manutenção) em dia até maio de 2019”. A aeronave, da fabricante Bell Helicopter, era pilotada por Ronaldo Quatrucci, que também morreu no acidente. Segundo a Anac, as licenças e habilitações do piloto estavam válidas.
Segundo testemunhas relataram ao Corpo de Bombeiros, a aeronave Bell Jet Ranger, um modelo de 1975, tentou fazer um pouso de emergência em uma alça de acesso do Rodoanel à av. Anhanguera, na altura do quilômetro 7, sentido Castelo Branco, próximo a um pedágio —local das vias com menos fluxo de veículos.
Na descida, no entanto, ela se chocou com um caminhão que tinha acabado de sair do pedágio, na faixa do Sem Parar (pedágio expresso). Não se sabe ainda qual o problema que a aeronave apresentou, mas foi a colisão que fez o helicóptero pegar fogo.
O motorista do caminhão foi socorrido e teve ferimentos leves, segundo a Polícia Militar. De acordo com a Abraphe (Associação Brasileira de Pilotos de Helicóptero), o piloto tinha experiência de quase duas décadas como comandante e “seguiu à risca as doutrinas de segurança até o último momento, na tentativa de preservar a vida da tripulação a bordo do helicóptero”.
Testemunha diz ter visto passageiro pular do helicóptero
Uma testemunha do acidente com o helicóptero que caiu na Rodovia Anhanguera no início da tarde desta segunda-feira (11), no qual morreram o jornalista Ricardo Boechat e o piloto Ronaldo Quattrucci, afirmou ter visto o passageiro pular da aeronave. Ela também disse que tirou o motorista do caminhão atingido pelo helicóptero de dentro do veículo.
“Uma pessoa pulou do helicóptero. O piloto ficou dentro do helicóptero. A pessoa que caiu na pista era o que tinha pulado primeiro. Ele pulou na pista, caiu no chão, e o helicóptero caiu em cima dele”, disse a vendedora Leilaine Rafael da Silva, de 29 anos, no 46º Distrito Policial onde o caso foi registrado.
“Mas eu queria salvar ele. Porque o piloto não pulou, ficou dentro do helicóptero”, completou. Leilane prestou depoimento à polícia. Leilaine contou que estava em uma moto pilotada pelo marido e seguia no sentido Cajamar, no interior de São Paulo. O casal passava ao lado do caminhão atingido pelo helicóptero. A vendedora afirmou que quebrou o vidro do caminhão com um capacete para retirar o motorista.
“Eu acho que poderia ter feito mais alguma coisa e não me deixaram. Eu devia ter corrido lá e puxado ele. Só que agora que eu estou aqui e que eu já sei que não tinha mais como tirar ele de lá, porque explodiu novamente. Eu vejo que eu podia ter morrido junto com ele”, descreveu. “Mas a minha intenção ali na hora era tirar ele de lá. Eu tinha que ter tirado ele de lá. Tinha que ter puxado para o meio da pista. O outro moço já tinha morrido.”
Leilaine contou que quase foi atingida pela aeronave: “O helicóptero estava muito baixo, perto do viaduto. Se o helicóptero não tivesse caído em cima dele, ele tinha sobrevivido. Não tinha o que fazer, mas ele estava vivo”. Ela disse que teve de se afastar porque notou vazamento de combustível do caminhão. Em seguida, segundo a vendedora, o helicóptero pegou fogo.