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Por Redação O Sul | 5 de fevereiro de 2019
São muitos os fatos que impressionam no rompimento da Barragem da Mina do Feijão, em Brumadinho (MG) — a começar pelas imagens captadas pelas câmeras da Vale, que superam em muito as de qualquer filme catástrofe. Mas, entre eles, certamente está a quantidade de erros e omissões na tragédia que já deixou 142 mortos, 194 desaparecidos e prejuízos inestimáveis.
Depois do desastre na Barragem do Fundão, em Mariana, em novembro de 2015, não se pode dizer que o acidente em Brumadinho era imprevisível, por mais que houvesse laudos atestando a estabilidade da represa. Mesmo porque ela utilizava o mesmo método — alteamento a montante — da que se rompera há três anos, causando a morte de 19 pessoas.
Mas a questão é ainda mais grave, pois havia um plano de emergência que alertava para esse cenário catastrófico, como informou a Folha de S.Paulo. O estudo, de abril do ano passado, aponta que, em caso de rompimento da barragem, as instalações administrativas e o restaurante com capacidade para 300 pessoas seriam atingidos em apenas um minuto. Ou seja, não haveria tempo sequer para retirar os funcionários. De fato, esses locais foram soterrados quase imediatamente pelo tsunami de rejeitos, resultando num grande número de mortos.
O documento, que fazia uma projeção da área a ser inundada, afirmava que a lama se estenderia por 65 quilômetros. Previa ainda a utilização de diferentes mecanismos de comunicação com o uso de alertas sonoros. Após a divulgação do plano de emergência, a Vale informou que ele tratava de um cenário hipotético. Obviamente, todo plano de contingência é feito em cima de hipóteses que podem não acontecer nunca. Mas eles existem justamente para reduzir danos caso elas ocorram.
O fato é que, em Brumadinho, as sirenes não tocaram. O presidente da Vale, Fabio Schvartsman, disse que o equipamento foi “engolfado” pela lama. Pergunta-se como pode um sistema feito para alertar sobre um desastre ser destruído pelo próprio desastre.
Outro ponto que merece reflexão são os planos de escape. A própria mineradora admite que a escolha do ponto de encontro que levava à rota de fuga foi equivocada, à medida que o local ficou soterrado. Um funcionário contou que só conseguiu sobreviver porque desobedeceu às orientações da empresa.
Infelizmente, o estrago está consumado. Mas essa sequência de falhas inadmissíveis deve servir de lição para que se evitem novas tragédias. Se não é possível impedir o desastre, que se reduzam seus efeitos. Existem protocolos para isso. Mas é preciso que eles sejam levados a sério. O que não foi feito em Mariana e Brumadinho. O resultado está aí.