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Colunistas A epidemia de ansiedade na Geração Z

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(Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

No início deste ano, fui contratado para oferecer consultoria neurocientífica a uma rede privada de escolas de ensino médio. Entre as recomendações que propus para melhorar o desempenho acadêmico e atingir os objetivos estabelecidos, uma surpreendeu os administradores: restringir o acesso dos alunos aos smartphones dentro da escola. Os diretores buscavam, com a consultoria, promover o bem-estar dos estudantes — além de melhorar as suas performances e autorrealizações — e viam a proibição dos celulares como um potencial fator de estresse para eles. Contudo, é um equívoco comum pensar que as frustrações são sempre prejudiciais ao desenvolvimento dos jovens.

Atualmente, enfrentamos uma epidemia de ansiedade, de desatenção e de outras condições sérias ligadas à saúde mental. Pesquisadores apontam que a Geração Z (pessoas nascidas entre 1995 e 2010) é especialmente ansiosa, quando comparada com as gerações anteriores. Um em cada três jovens apresenta sintomas significativos de sofrimento psicológico atualmente. Os índices crescentes de transtornos depressivos e de ansiedade sinalizam uma crise iminente na saúde mental global, afetando todas as classes sociais e níveis de educação. Esse fenômeno visto no mundo todo não pode ser explicado por fatores específicos de cada país; há algo em comum que está deteriorando a saúde psicológica dos jovens. E os smartphones têm sua significativa parcela de responsabilidade.

Claro, o celular em si não é o culpado; ele é apenas uma ferramenta. No entanto, é uma ferramenta que, sem precaução, pode ser nociva. Assim como carros ou furadeiras, os smartphones exigem cuidados em seu uso. O verdadeiro perigo ao desenvolvimento cognitivo e emocional de crianças e adolescentes emerge quando esses dispositivos são usados, sem o devido cuidado, em conjunto com as mídias sociais.

Como todos os seres humanos, os adolescentes têm necessidades básicas de conexão social e inclusão. As redes sociais estão cientes disso e se aproveitam da impulsividade desses jovens, que ainda não possuem seus cérebros totalmente desenvolvidos para lidar com as demandas alavancadas por essas empresas. Muitas plataformas desenvolveram técnicas para capitalizar sobre as suas vulnerabilidades psicológicas, visando lucro, mesmo que isso comprometa a capacidade desses jovens de “curtirem” qualquer outra atividade que não as próprias redes.

As surpresas com os próximos reels, a curtida do crush em sua foto, a percepção artificial de proximidade com aquelas subcelebridades e o sentimento de pertencimento provocado por “câmaras de eco” proporcionam prazer imediato e liberam grandes quantidades de dopamina. A liberação abundante dessa substância no cérebro resulta em uma dependência cada vez maior das redes. E, por contraste, qualquer atividade educacional, qualquer interação cotidiana com amigos no mundo real, qualquer leitura será logicamente desinteressante, desmotivadora e incapaz de prender a sua atenção. Enquanto você está lendo um livro, pode estar perdendo o novo vídeo viral ou a próxima trend efêmera e insignificante.

A crise na saúde mental dos jovens não é causada exclusivamente pelas redes sociais. A falta de perspectivas em um mundo cheio de incertezas também contribui significativamente. Contudo, o uso excessivo de smartphones tem sido associado a graves problemas psicológicos em crianças e adolescentes, prejudicando a capacidade de concentração, o desempenho acadêmico e a compreensão dos conteúdos escolares. Os desenvolvimentos cognitivos e emocionais estão interligados: não há bem-estar psicológico sem autorrealização e autoestima, e vice-versa.

Por isso, nos últimos anos, países como França, Itália, Finlândia e os Países Baixos adotaram políticas para limitar ou banir o uso de smartphones em escolas, visando reduzir distrações, melhorar a saúde mental e o desempenho acadêmico dos alunos. Essas medidas podem fomentar oportunidades para conexões sociais e afetivas verdadeiras entre os estudantes, fundamentais para a liberação de hormônios que fortalecem nossos vínculos e autoestima, além de reduzir a fragmentação da atenção. Portanto, é urgente discutir o acesso indiscriminado de crianças e pré-adolescentes às redes sociais e smartphones, além de adotar medidas para atenuar o impacto nocivo dessas tecnologias no desenvolvimento psicológico dessa geração.

João Centurion Cabral – Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia e Coordenador do Laboratório de Neurociência Social da Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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