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Mundo A escassez de remédios assola a Venezuela enquanto prossegue o impasse sobre a ajuda humanitária internacional

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A crise econômica enfrentada pela indústria farmacêutica no país explica em parte o problema das prateleiras vazias nas farmácias. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Venezuelanos que enfrentam a escassez de medicamentos no seu país aguardam com ansiedade o desfecho do braço de ferro entre o presidente Nicolás Maduro e o líder da oposição, Juan Guaidó, sobre a entrega da ajuda humanitária que está na fronteira da Venezuela. Pacientes e profissionais da área da saúde falaram sobre a situação crítica do sistema de saúde. Alvo de sanções internacionais, o governo compra remédios no exterior e bloqueia a entrada da ajuda.

“Deus queira que essa ajuda humanitária entre. A nossa situação é crítica, é horrível. Está cada vez pior. O governo não quer, mas estamos precisando muito. Não temos remédios”, afirmou a aposentada Maria, de 60 anos, que sofre de retrocolite ulcerosa. A doença crônica que atinge o intestino provoca várias complicações caso não receba tratamento adequado, como perda de peso e aparecimento de feridas pelo corpo.

A crise econômica enfrentada pela indústria farmacêutica no país explica em parte o problema das prateleiras vazias nas farmácias. Em um contexto de inflação galopante – que superou 1.000.000% em 2018 – e de desvalorização do bolívar, os laboratórios não conseguem comprar matérias-primas e atualmente trabalham em média com cerca de apenas 30% da sua capacidade instalada, de acordo com a Cifar (Câmara da Indústria Farmacêutica).

“Em 2014, os laboratórios produziram 714 milhões de unidades. Existia uma grande variedade deles. De 2014 a 2018, a produção caiu 70%. No fim de 2018, produziu-se 178 milhões de unidades, mas não há variedade. O que se vê no mercado são antigripais, analgésicos e anti-inflamatórios, mas não se consegue remédios para problemas cardíacos, hipertensão arterial, diabetes, anticonvulsivos”, afirmou Tito Lopez, presidente da Cifar. O fim de um programa que permitia aos laboratórios comprar dólares com uma taxa de câmbio favorável também contribuiu para o agravamento da situação no último ano.

Carlos Feo, especialista venezuelano em saúde pública e professor de Economia Política da Saúde, explicou que o país sempre foi muito dependente do mercado internacional e o problema do desabastecimento foi intensificado devido às sanções internacionais que começaram a ser impostas pelos Estados Unidos há cerca de quatro anos.

Prateleiras de remédios vazias

Boletins da ONG Convite, que faz um monitoramento da saúde na Venezuela, indicam que a escassez de medicamentos permaneceu acima dos 80% durante todo o ano de 2018 em 160 farmácias visitadas na região metropolitana de Caracas, Maracaibo, Barquisimeto, Merida e Por la mar. Para elaborar o índice, a ONG leva em consideração a oferta de medicamentos para diabetes, hipertensão, infecção respiratórias agudas e diarreias.

“Essa constatação é muito grave porque diabetes e hipertensão são doenças que exigem medicação controlada. Já as infecções respiratórias agudas e as diarreias são as duas doenças que mais atingem os venezuelanos”, afirmou Luiz Francisco Cabezas, presidente da ONG convite.

Uma dose de insulina a 32 mil bolívares ou uma cartela com 14 comprimidos de um remédio utilizado por hipertensos por 24 mil bolívares dão uma ideia da dificuldade para os doentes de ter acesso à medicação de uso contínuo em um país onde o salário mínimo é de 18 mil bolívares (US$ 20,9 ou cerca de R$ 77). A crise atinge também o sistema público de saúde e torna ainda mais dramática a situação de pacientes que precisam de medicação de alto custo fornecidos pelo governo.

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