Segunda-feira, 28 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 27 de setembro de 2020
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou a indicação da juíza conservadora Amy Coney Barrett para a Suprema Corte, em um importante movimento eleitoral na reta final da disputa à presidência. Com a nomeação de Barrett, Trump busca reavivar sua campanha ao energizar a base fiel do eleitorado republicano. O presidente também briga para garantir uma nova juíza na Corte antes da eleição, para o caso de a votação ser judicializada.
Nos jardins da Casa Branca, Trump afirmou que Amy Coney Barrett é notável pelo caráter e intelecto e qualificada para o trabalho. “Se confirmada, ela fará a história como a primeira mãe de crianças em idade escolar a servir na Suprema Corte”, disse Trump, ao lado de Barrett. Na sequência, Trump mencionou os nomes dos sete filhos da juíza, que assistiam a cerimônia na primeira fileira do público. “Ela irá decidir (casos) baseada no texto da Constituição como escrito”, afirmou Trump.
Juíza da Corte de Apelações Federal para o 7º Circuito, em Chicago, Barrett era a favorita ao posto da ala conservadora do partido republicano, por sua visão anti-aborto. A possibilidade de ampliar o conservadorismo na Corte é tema de campanha de Trump desde antes da morte de Ruth Bader Ginsburg e tem sido explorada politicamente pelo republicano, que está pressionado pelo mal resultado nas pesquisas eleitorais. O assunto mudou o foco das atenções na política e na imprensa americana e se sobrepôs às manchetes sobre a pandemia de coronavírus, por exemplo, na semana em que os EUA superaram a marca de 200 mil mortos por covid-19.
Amy Barrett será a quinta mulher indicada na história do tribunal e vai substituir a progressista Ginsburg, que morreu no último dia 18, aos 87 anos. Ginsburg era uma pioneira no judiciário americano na luta pelo fim da discriminação entre gêneros e foi a segunda mulher indicada à Corte, em 1993, pelo democrata Bill Clinton. Em seu discurso, Barrett adotou um tom conciliador e tentou desmontar os críticos. Ela começou o pronunciamento com a promessa de lembrar Ginsburg. “Ela não só quebrou tetos de vidro, como os esmagou, e por isso ganhou a admiração de mulheres em todo o país”, disse.
Em aceno à oposição, a indicada por Trump disse que os juízes devem “deixar de lado quaisquer opiniões políticas que possam ter” e “aplicar a lei como está escrita”. Ela lembrou da amizade de Ginsburg com o conservador Antonin Scalia, ao enaltecer a capacidade de manter amizades mesmo com divergências. “Aos americanos”, disse Barrett, “eu não assumiria o posto por meu próprio círculo ou por mim mesma. Eu assumiria o papel de atendê-los”. A juíza também buscou desmontar a ideia de que o grupo religioso ao qual é vinculada a torna subserviente aos homens, ao dizer que o marido – também advogado – a pergunta todas as manhãs “o que pode fazer por ela naquele dia”. “Magnífico e generoso”, disse ela.
Durante a cerimônia de nomeação, o democrata Joe Biden divulgou uma declaração na qual sugere que o acesso à saúde está ameaçado com a indicação da conservadora à Corte. Barrett já criticou a reforma no sistema de saúde conhecido como Obamacare, da gestão de Barack Obama. “O presidente Trump vem tentando descartar o Affordable Care Act há quatro anos. Os republicanos vêm tentando acabar com isso há uma década. Por duas vezes, a Suprema Corte dos EUA confirmou a constitucionalidade da lei”, afirmou Biden.
Enquanto Trump tenta centrar o debate político na nomeação à Corte e na defesa de valores conservadores, Biden recoloca em debate à pandemia de coronavírus — um calcanhar de aquiles na campanha do presidente.
“Mesmo agora, em meio a uma pandemia global, o governo Trump está pedindo à Suprema Corte que anule toda a lei, incluindo suas proteções para pessoas com doenças pré-existentes”, escreveu Biden, antes de mencionar na sua declaração a posição de Amy Barrett sobre o Obamacare e pedir, novamente, que o Senado espere a eleição para decidir sobre a vaga ao tribunal.