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Por Redação O Sul | 7 de outubro de 2017
Sob pressão dos principais partidos políticos do país desde a realização do referendo sobre a independência da Catalunha, no último domingo, o presidente de governo espanhol, Mariano Rajoy, se reuniu nos últimos dias com seu Conselho de Ministros, além de representantes da Igreja Católica e juízes, ouvindo propostas de resposta à crise causada pelas as aspirações nacionalistas catalãs. Não ofereceu uma resposta definitiva sobre a aplicação do Artigo 155 da Constituição – que suspenderia por completo a autonomia da região – mas voltou a mostrar que manterá de pé a queda de braço com o governo da região: na sexta-feira, a Espanha aprovou um decreto para tornar mais fácil a mudança do domínio legal de empresas para fora da Catalunha. O Ministério da Economia afirmou, em nota, que a medida passa a valer a partir de hoje, e é uma resposta a demandas do setor empresarial diante das dificuldades que surgiram para a execução normal de suas atividades no território nacional. Já o ministro da Educação e porta-voz do governo espanhol, Íñigo Mendez de Vigo, pediu novas eleições na região.
“Seria bom começar a remendar essa fratura a partir do Parlamento catalão, por meio de novas eleições regionais”, afirmou Mendez de Vigo em coletiva.
Em Barcelona, o presidente regional catalão, Carles Puigdemont, anunciou um pronunciamento “sobre a situação política atual” no Parlamento local, na tarde de terça-feira. Embora Puigdemont não tenha revelado o teor de seu pronunciamento, especula-se que ele possa declarar unilateralmente a independência da região, apoiado pelos resultados do referendo do último domingo. Na sexta-feira, o governo catalão divulgou os resultados finais da consulta: 2.286.217 pessoas, um equivalente a 43,03% do eleitorado catalão, participaram do referendo. O “sim” teve 90,18% dos votos, enquanto o “não” teve 7,83% e os votos em branco totalizaram 1,98%.
Uma declaração unilateral poderia aumentar ainda mais a pressão sobre Rajoy para que o Artigo 155 seja aplicado. Ontem o líder do partido Cidadãos – criado na Catalunha e de orientação fortemente anti-independentista – Albert Rivera, se reuniu com o presidente de governo e voltou a exortar Rajoy a dissolver o Parlamento catalão e convocar eleições na região. Durante a semana, os dois já haviam se encontrado, e o presidente de governo dissera que estava estudando a aplicação do artigo.
O ministro Mendez de Vigo, afirmou que o governo central espera que Puigdemont recue para “recuperar a convivência na Catalunha”, e rechaçou os pedidos de intervenção. “O caminho escolhido por Puigdemont não leva a lugar nenhum e, caso a Catalunha declare independência, nenhum país do mundo a reconhecerá como um Estado”, afirmou.
O porta-voz também se somou ao delegado do governo central na região, Enric Millo, no pedido de desculpas pelas ações policiais que deixaram centenas de pessoas feridas ou atendidas em hospitais por ataques de pânico durante o referendo. “Lamentamos que pessoas tenham se ferido em consequência das ações policiais”, afirmou o ministro.
E mesmo a dias de uma declaração de independência que pode ou não acontecer, a crise catalã começou a ter reflexos na economia local. Nos últimos dois dias, dois dos maiores bancos da região, CaixaBank e Sabadell, anunciaram a transferência de suas sedes para outras regiões, assim como a companhia de crédito ArquiaBank, a operadora de telecomunicações Eurona e a filial do banco italiano Mediolanum. A Gas Natural Fenosa aprovou a mudança de sua sede para Madri, “devido à insegurança jurídica causada pela situação política e social que vive a Espanha nas últimas semanas”. Fundada há 174 anos, a Gas Natural é uma das empresas mais emblemáticas da Catalunha.
“O agravamento da crise catalã e a possibilidade de uma declaração de independência estão coincidindo com uma fuga de empresas da região”, afirma José Luis Bonet, presidente da empresa de espumantes Freixenet e da Câmara de Comércio Espanhola. “Até agora, achava que a independência não aconteceria, mas começo a pensar que posso ter me enganado e, se for o caso, teremos que fazer como estão fazendo muitos. Acho que é o momento para que os políticos façam uma reflexão, parem de olhar para seus próprios umbigos e comecem a prestar atenção nos cidadãos.”
Outros, porém, enxergam numa separação uma oportunidade para a prosperidade: “Na Catalunha, há 600 mil pequenas empresas, e três ou quatro mil empresas de tamanho médio, que não produzem um volume tão grande quanto o das grandes empresas europeias. Para a maioria dessas empresas, a ruptura com a Espanha não é um risco. Pelo contrário, podemos tornar nossas empresas mais eficientes e mais competitivas. Há um consenso de que a Catalunha terá um futuro econômico mais próspero se seguir seu caminho separada da Espanha”, afirmou David Marín i Casanovas, executivo-chefe da empreiteira Inaccés.