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A estrutura mista de concreto e aço contribuiu para que prédio em chamas em São Paulo caísse mais rápido, disse um especialista

Os ossos estavam espalhados entre os destroços. Em 9 dias de buscas, os bombeiros já localizaram o corpo de Ricardo Galvão e de uma segunda vítima. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

O incêndio e o subsequente desabamento de um prédio de 24 andares no Centro de São Paulo na madrugada desta terça-feira (1º) foram uma “tragédia anunciada” pela falta de sistemas de proteção antifogo, por falta de ação do poder público e pela estrutura mista de concreto e aço do edifício, menos resistente ao fogo.

A análise é do professor de engenharia da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e especialista na área há 30 anos, Paulo Helene.
Projetado nos anos 1960 para uso comercial, o edifício Wilton Paes Almeida já funcionou como sede da Polícia Federal e do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Abandonado há pelo menos 17 anos, ele foi ocupado irregularmente diversas vezes. Nos últimos anos, servia como residência a mais de 90 famílias, que pagavam mensalidade ao Movimento Luta por Moradia Digna.

Além das particularidades decorrentes da ocupação – a retirada dos elevadores e o acúmulo de material inflamável, por exemplo –, afirma o especialista, características estruturais da construção acabaram favorecendo a expansão do fogo e o desmoronamento. A estrutura mista de aço e concreto era uma delas.

“O prédio tinha um núcleo central de elevadores e escadas em concreto. Os demais eram pilares metálicos, com resistência bem menor ao fogo. Essa pode ser uma das explicações para ele ter caído tão rápido”, diz o professor.

Na época em que o Wilton Paes Almeida foi construído, boa parte dos prédios no Brasil era feita apenas de concreto, que funciona como uma espécie de isolante térmico e, portanto, dificulta a disseminação de focos de incêndio.

Com o tempo – e o desenvolvimento da indústria siderúrgica nacional –, a construção passou a incorporar estruturas metálicas nos edifícios. “Era uma concepção até moderna para a época”, diz o engenheiro.

“Na época em que o prédio foi construído, não existia proteção térmica como existe hoje – e que sabemos que é importante. Era uma estrutura que não estava protegida adequadamente contra incêndios”, acrescenta Helene.

De acordo com normas nacionais e internacionais de segurança, segundo ele, prédios dessa altura deveriam resistir sem desabar, em caso de incêndio, por pelo menos três horas, ou 180 minutos – tempo estimado para evacuação e para viabilizar as ações de salvamento por parte dos bombeiros. “Mas esse edifício colapsou antes de 1 hora e meia, ou seja, resistiu apenas por cerca de 90 minutos.”

O caso é apontado como “um dos raros na história em que uma estrutura de concreto armado” foi abaixo ao pegar fogo.

Experiência

O professor participou como voluntário, em 2011 e 2015, de trabalhos para reforçar a estrutura de dois prédios ocupados em São Paulo que estavam deteriorados e com riscos de desabamento.

“Eu não sou a favor de ocupações, mas uma vez o fato consumado o Estado tem de estar presente, retirando essas pessoas e devolvendo as condições normais ao edifício, ou dando assistência a elas, porque a situação desses edifícios coloca em risco toda uma vizinhança”, diz Helene.

No caso do edifício incendiado nesta terça, ele diz que “os próprios bombeiros e a prefeitura reconheceram que não havia as condições necessárias de proteção, mas não adianta dizer isso e não fazer nada”. “A falha está aí. Têm que ser tomadas providências. Ou reintegra a posse ou, se não tem solução quanto à ocupação, é preciso ajudar essas famílias. Isso é papel do Estado, mas quem está fazendo são indivíduos, ONGs e universidades, como voluntários. Há omissão do Estado. A prefeitura não entra nesses prédios. O Estado não entra.”

Proteção fundamental

Entre os elementos que aponta como essenciais em edifícios do porte do Wilton Paes Almeida estão extintores, caixa d’água com reserva de água extra, chuveiros automáticos, ou “sprinklers” – acionados em caso de fogo – e a compartimentação dos espaços, ou seja, a presença de divisórias de alvenaria de concreto internas, que ele diz que não existiam no prédio que caiu. Também faltavam nele alarmes para alertar os moradores.

“Esse prédio era um grande salão aberto, aparentemente sem paredes internas de alvenaria e sem esses sistemas de proteção suplementares que impediriam que o fogo se espalhasse rapidamente”, diz Helene, reforçando a explicação do Corpo de Bombeiros de que os “buracos” deixados pela retirada dos elevadores funcionaram como chaminés, também contribuindo para o fogo passar de um andar para outro.

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