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Por Redação O Sul | 9 de julho de 2018
Numa das áreas mais nobres de Moscou, as federações de futebol de países sul-americanos criaram uma espécie de embaixada transformada em museu das grandes conquistas de Brasil, Argentina e Uruguai, entre outros. Mas, quando o Mundial terminar, no dia 15 de julho, o futebol completará seu quarto campeonato seguido com conquista europeia e a Conmebol continuará apenas com as fotos de seu passado glorioso.
Com quatro seleções nas semifinais, a Europa se consolida como o epicentro do esporte. Mas o protagonismo inédito dos europeus não ocorre apenas no torneio mais importante de seleções. Isso acontece também nos Mundiais Sub-20 e Sub-17, com os torneios de clubes, além das finanças do esporte e até mesmo no calendário internacional.
Os dados não deixam dúvidas de quem hoje domina o futebol. Brasil foi o último sul-americano a ganhar um Mundial em 2002. Itália em 2006, Espanha em 2010, Alemanha em 2014 e outro europeu em 2018 estabelecerão o período mais longo da história dos Mundiais sem a conquista de um sul-americano.
O futebol de base, porém, também tem visto um forte domínio europeu, o que aponta que as conquistas podem continuar no nível profissional. No Mundial Sub-20, a França bateu o Uruguai na final, em 2013, seguido pela conquista da Sérvia superando o Brasil em 2015 e a Inglaterra vencendo a Venezuela em 2017.
Entre os clubes, o domínio é ainda maior. Nos últimos dez anos, todas as edições do Mundial da entidade máxima do futebol foram vencidas por europeus – salvo em 2012, quando o Corinthians bateu o Chelsea. Centro do poder e do dinheiro do futebol internacional, a Europa forneceu 75% dos jogadores que estavam no Mundial em 2018, um número recorde.
Na Uefa, esses números que são apresentados à exaustão em negociações e na definição de calendários internacionais. “Temos o melhor futebol do mundo”, insiste Aleksander Ceferin, presidente da Uefa. Desde 1982, quando as semifinais foram recriadas no Mundial, 31 dos 40 times que passaram para essa fase foram europeus.
Na entidade europeia, a explicação dada para o sucesso tem uma relação direta com os recursos investidos, estabilidade e um plano claro para tornar o futebol uma atividade rentável para, justamente, garantir mais investimentos. Segundo dados da Uefa, 26 das 54 ligas nacionais europeias estão dando lucro. O nível de dívidas dos clubes caiu de 65% em 2011 para 35% em 2017.
“Durante estas duas décadas sem ganhar um Mundial, acompanhamos a evolução de clubes e seleções europeias na parte técnica e coletiva e presenciamos a transformação da qualidade de jogo de Inglaterra, Espanha, Alemanha, França e Bélgica”, disse Eduardo Tega, consultor técnico em desenvolvimento e inovação no futebol, que atua em federações na Europa.
Segundo ele, a Uefa introduziu em 2008 o processo obrigatório de qualificação de treinadores e, em 2004, o Sistema de Licenciamento de Clubes. Trata-se de um conjunto de critérios a serem preenchidos para que os clubes possam participar de suas principais competições e acabou incorporado ao modo como os clubes e as federações europeias operam e tomam suas decisões. “A CBF dará inicio à adoção destes processos a partir deste ano”, disse. “Estamos atrasados em relação aos europeus.”
Marcos Motta, advogado e um dos principais nomes da administração do futebol internacional atual, destaca que a Europa hoje é “o maior mercado do mundo”. “Lá estão as melhores ligas e os melhores jogadores.”
O ex-ministro dos Esportes, Ricardo Leyser Gonçalves, tem outra avaliação. “Não vejo esse fato como resultado da decadência do futebol não europeu”, disse, lembrando da queda precoce de Alemanha e Portugal, além da ausência de Itália e Holanda no Mundial. Em sua avaliação, Japão e Irã mostram que o futebol está se desenvolvendo em outras partes do mundo. Mas admite que os europeus estão jogando mais parecido com a habilidade dos sul-americanos. “A imigração africana fez muito bem para o futebol europeu.”
Amir Somoggi, diretor da empresa brasileira de marketing esportivo Sports Value, insiste no aspecto econômico, com a transferência de craques para um só mercado, na Europa. “Nossa seleção é um apanhado de bons jogadores, mas que na seleção rendem pouco”, aponta. “Falta consciência tática, que sobra aos europeus, que formam cada vez melhores jogadores, e estão nos deixando para trás.”
Questionado sobre a força do futebol europeu, o técnico uruguaio Oscar Tabárez ironizou: “não me pergunte sobre algo que é evidente”. Segundo ele, “a realidade do ponto de vista financeiro e histórico não pode ser ignorada”. Campeão em 2002 e dirigente do Barcelona, Edmílson define com uma palavra o domínio europeu: “organização”. “Dinheiro existe. Não existe é um plano.”