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A Europa sem os Estados Unidos consegue deter a Rússia na guerra da Ucrânia? Entenda

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer (E), em conversa com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky (D). (Foto: Reprodução/Le Monde)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demonstrou mais confiança nas forças armadas britânicas do que muitos generais aposentados do Reino Unido, afirmando que os britânicos possuem forças militares de alta qualidade e são capazes de se proteger. No entanto, deixou em aberto a questão de saber se o Reino Unido teria capacidade de enfrentar a Rússia, gerando incertezas sobre o papel do país no conflito. Por outro lado, autoridades militares dos EUA elogiam o profissionalismo do exército britânico, mas criticam os cortes orçamentários que resultaram em um exército com apenas 70 mil soldados regulares, um número insuficiente para muitos analistas.

A Rússia aumentou significativamente seus gastos militares, agora superando os gastos totais com defesa de toda a Europa, enquanto o Reino Unido planeja gastar apenas 2,5% do PIB com defesa até 2027. Esse contexto revela a visão de Trump de que os EUA não devem enviar tropas para a Ucrânia, focando mais em interesses econômicos, como a exploração de recursos minerais, que, segundo ele, podem dissuadir um novo ataque da Rússia. Mesmo assim, seu governo reconhece a necessidade de demonstrações de poder militar, que deveriam vir da Europa.

A questão central é se a Europa tem a capacidade de fornecer a segurança necessária para enfrentar a Rússia. E a resposta imediata é não. Por isso, Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, tem pressionado por garantias de segurança dos EUA, que detêm as forças armadas mais poderosas do mundo. Após o fim da Guerra Fria, o Reino Unido, como outros países, cortou investimentos militares, mas a tendência de aumento nos gastos com defesa está sendo vista em vários países da Europa.

Em uma reunião realizada em Londres nesse domingo (2), líderes de várias nações europeias discutiram o futuro da guerra na Ucrânia e como garantir um tratado de paz. Embora Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, tenha sugerido uma força internacional de quase 200 mil soldados para impedir um novo ataque russo, autoridades europeias consideram uma força de até 30 mil soldados como mais viável. Essa força seria composta por militares e apoio aéreo e naval para monitorar o espaço aéreo e as rotas de navegação ucranianas, focando em pontos estratégicos como cidades, portos e usinas nucleares. No entanto, os líderes europeus sabem que esse contingente não seria suficiente sem o apoio dos EUA, que poderiam fornecer supervisão e um elemento de comando e controle.

Dependência

A Europa, embora tenha ultrapassado os EUA em termos de quantidade de armas enviadas para a Ucrânia, não possui as capacidades necessárias para realizar operações militares em grande escala. As capacidades de vigilância, coleta de inteligência e logística, essenciais para a operação, dependem amplamente dos EUA. A campanha da Otan na Líbia, em 2011, evidenciou essas deficiências, quando as forças europeias, apesar de liderarem a operação, precisaram do suporte dos EUA para reabastecimento e outros sistemas vitais.

Embora o secretário de Saúde do Reino Unido, Wes Streeting, sugira que o compromisso de Trump com o Artigo 5 da Otan — pelo qual um ataque a um aliado é considerado um ataque a todos — poderia representar um respaldo mais forte dos EUA, o Secretário de Defesa americano, Pete Hegseth, afirmou que qualquer força internacional enviada à Ucrânia não seria coberta pelo tratado da Otan. Assim, neste momento, não há garantias de segurança no estilo da Otan para a Ucrânia.

A determinação da Europa está sendo testada nesse momento crítico. No entanto, apesar das palavras de apoio de Trump, a França é atualmente a única grande potência europeia disposta a se envolver de forma mais direta, com alguns países do norte da Europa, como Dinamarca, Suécia e as nações bálticas, também abertas à ideia, mas com a exigência de garantias de segurança dos EUA. Países como Espanha, Itália e Alemanha, por enquanto, se opõem a um compromisso mais contundente.

Encruzilhada

Na reunião desse domingo, os líderes europeus, do Canadá e da Turquia acordaram em quatro medidas principais: manter o apoio militar enquanto a guerra durar, intensificar a pressão econômica sobre a Rússia, garantir a soberania da Ucrânia em qualquer negociação de paz e formar uma “coalizão dos dispostos” para defender a Ucrânia e garantir a paz duradoura no país.

Keir Starmer reafirmou o compromisso do Reino Unido com o apoio militar à Ucrânia, mas destacou que a Europa deve assumir a liderança nesse esforço. Ele também enfatizou que a paz duradoura precisa do apoio ativo dos EUA. O primeiro-ministro britânico finalizou sua declaração ressaltando que estamos em uma “encruzilhada histórica” e que, em vez de mais discussões, é hora de agir para alcançar uma paz justa e duradoura para a Ucrânia.

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