Domingo, 06 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 1 de abril de 2025
Em sua delação premiada, Fabio Abrate, ex-diretor financeiro e de relações com investidores da Americanas, acusa os bancos que trabalhavam com a Americanas de ocultar intencionalmente as informações das dívidas do risco sacado da empresa – foi por meio do risco sacado que boa parte das fraudes nos balanços da empresa era cometida.
Segundo a denúncia do MPF (Ministério Público Federal), Abrate disse que “as operações de risco sacado, ao longo do tempo, foram sendo desvirtuadas pela Americanas, com o consentimento dos bancos”.
Os bancos que Abrate bota na roda são, principalmente (mas não exclusivamente), o Itaú e o Santander. Disse Abrate:
“(…) A minha conversa com os dois bancos foi muito simples, ou tira (da carta de circularização), ou a gente para de fazer operação (de risco sacado). O risco sacado era uma operação curta e muito cara. Então, se você é Itaú, você é Santander, você vai me sinalizar, e eu vou ter que contabilizar como dívida, essa era a pior hipótese. (…) Se o banco interrompe naquele momento, a gente não tinha chegado onde a gente chegou. O banco não apontar na carta de circularização foi decisivo para a perpetuação da fraude.”
Abrate afirmou que, com o Itaú, a Americanas negociava diretamente com os seus altos executivos.
Abrate é o terceiro ex-executivo da empresa a fechar um acordo de colaboração com o MPF. Os outros dois delatores foram os ex-diretores Flávia Carneiro e Marcelo Nunes.
A assessoria do Itaú enviou a seguinte nota: “O Itaú Unibanco nega qualquer participação, direta ou indireta, na fraude contábil que a Americanas sofreu. O banco sempre prestou às auditorias e aos reguladores informações corretas e completas sobre as operações contratadas pela empresa, conforme legislação vigente e melhores práticas de mercado. Conforme já esclarecido, os informes enviados às auditorias sempre alertavam para a existência das operações de risco sacado e da exposição de crédito da companhia aos fornecedores. Os diretores da Americanas envolvidos na operação interagiram com representantes do Itaú no sentido de retirar os alertas, como admitiu o ex-diretor Fabio Abrate em seu depoimento. O banco nunca concordou com esse pedido e, diferentemente do que informou Abrate, manteve o texto que sinalizava a exposição da companhia ao risco sacado. O Itaú, inclusive, interrompeu, por mais de 6 meses, as operações de risco sacado. O Itaú reforça que a elaboração das demonstrações financeiras é de responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa e repudia qualquer tentativa de responsabilização de terceiros por falhas ou fraudes nessas demonstrações.”
Já a assessoria do Santander enviou a seguinte nota: “O Santander reitera que não possui ingerência, supervisão ou responsabilidade sobre as demonstrações financeiras da Americanas. A própria Companhia informou, em fato relevante de 13/06/2023, que as demonstrações foram fraudadas pela diretoria anterior. O Banco sempre informou os saldos das operações da empresa nas cartas de circularização e ao Sistema Central de Risco do Banco Central, que é uma entre as possíveis fontes de auditagem. As fraudes estavam pautadas no uso de contratos comerciais fictícios com fornecedores, conhecidos como Verba de Propaganda Cooperada (VPC), entre outras inconsistências de balanço, por meio dos quais a Companhia reduzia seus custos artificialmente e ampliava os seus lucros. Sendo assim, o Santander repudia qualquer insinuação contrária à lisura e correção em sua relação com a empresa, reiterando ter sido também vítima das fraudes.” As informações são do jornal O Globo.