O presidente da Rússia, Vladimir Putin, agradeceu seus eleitores em um discurso comedido após a confirmação da vitória na votação finalizada nesse domingo (17): segundo a Comissão Eleitoral Central, Putin venceu com 87% dos votos, cerca de dez pontos percentuais a mais do que em 2018. Ele ainda afirmou que o país vive um momento “dramático”, e que não se deixará intimidar por forças externas. Em entrevista após o discurso, ele confirmou que o oposicionista Alexei Navalny, morto no mês passado, seria incluído em uma troca internacional de presos.
“A fonte de poder na Rússia é o povo”, disse Putin. “E a quem quis suprimir nossa vontade, nossa consciência, ninguém na história jamais conseguiu fazer isso, não aconteceu no passado e nunca vai acontecer no futuro.”
Ao contrário da vitória em 2018, quando celebrou a vitória em um discurso perto da Praça Vermelha, o presidente reeleito falou rapidamente na sede de sua campanha, na capital russa. Putin fez uma homenagem aos militares russos que hoje lutam na Ucrânia, afirmando que eles estão “na primeira linha de defesa do país”, e que garantem a segurança de todos. Ao falar da eleição, disse que a participação contudente, de 74%, demonstrou a consolidação da sociedade, e que os russos “sentem que muito depende deles” em um momento difícil para a Rússia.
“A alta participação eleitoral está ligada aos eventos dramáticos que o País vive hoje”, disse o presidente reeleito. “Obrigado a todos os russos pela confiança, farei tudo ao meu poder para cumprir tarefas e objetivos prioritários.”
Após o discurso, Putin concedeu uma entrevista coletiva à imprensa russa, na qual reiterou sua gratidão aos russos por mais uma vitória nas urnas.
“Nossa tarefa é usar a confiança dos cidadãos da Federação Russa para fazer tudo o que depende de nós, para que todas as tarefas atribuídas sejam resolvidas e os objetivos sejam alcançados”, declarou Putin.
Putin ainda falou sobre a situação da guerra: ele afirmou que as forças russas estão “destruindo” os ucranianos em vários pontos de combate, e que tentativas de infiltração em áreas de fronteira pelas forças de Kiev “fracassaram”, o presidente citou ainda o cenário de “moedor de carne”, como especialistas se referem aos violentos combates terrestres, que por vezes cobram um preço elevado em termos de vidas e equipamentos em avanços por vezes pequenos, de alguns metros diários. Para Putin, é “até benéfico” para os russos esse tipo de cenário.
“Precisamos resolver os problemas no âmbito do Distrito Militar do Norte, fortalecer as nossas capacidades de defesa, fortalecer as nossas Forças Armadas. Isto está acontecendo a um ritmo muito bom e com excelente qualidade”, disse Putin aos jornalistas.
O presidente, respondendo a uma pergunta feita por um jornalista da rede NBC News, confirmou que havia acertado a inclusão do oposicionista Alexei Navalny em uma troca de prisioneiros com os EUA pouco antes de sua morte, em fevereiro, em uma prisão no Ártico. A troca havia sido revelada dias depois da morte do dissidente por uma aliada, Maria Pevchikh, e tem sido confirmada por diversas fontes ligadas a Navalny e ao Kremlin desde então. Ao mencionar o caso, além de confirmar os planos de troca, ele chamou a morte de “um incidente infeliz” — Putin também quebrou uma espécie de “tabu”: ele jamais havia mencionado publicamente o nome de Navalny.
“Alguns dias antes do falecimento do sr. Navalny, alguns colegas, não funcionários da administração, mas algumas pessoas, disseram-me que havia uma ideia de trocar o sr. Navalny por algumas pessoas que estão presas em países ocidentais”, disse Putin. “Você pode acreditar em mim, ou não: a pessoa que falou comigo ainda não havia terminado a frase, mas eu disse: “Concordo”. Vamos mudá-lo para que ele não volte.
Ainda sobre a oposição, afirmou que os “traidores” da Rússia serão tratados “como se estivessem em uma zona de guerra”. Antes da eleição, o governo elevou a repressão contra pensamentos dissidentes, prendendo opositores, fechando organizações consideradas “nocivas” e, no caso da votação, barrou candidatos não alinhados ao Kremlin.
“Eles foram contra o seu país, contra a sua pátria, com armas nas mãos. Não temos a pena de morte, mas trataremos sempre estas pessoas, agora e no futuro, como aquelas que estão numa zona de combate”, afirmou.