Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de dezembro de 2019
A Agência Francesa de Segurança Sanitária (Anses) anunciou nesta segunda-feira (9) que vai retirar do mercado 36 produtos à base de glifosato, agrotóxico mais vendido no mundo e suspeito de efeitos cancerígenos e problemas genéticos.
“Por decisão da Anses, 36 produtos serão retirados do mercado e não poderão ser utilizados a partir do final de 2020 devido à insuficiência ou falta de dados científicos para descartar qualquer risco genotóxico” (suscetível de danificar o DNA ou causar mutações), informou a agência em comunicado.
Atualmente, na França, 69 produtos à base de glifosato são comercializados e os 36 retirados do mercado responderam por três quartos da tonelagem desse tipo de herbicida distribuído em 2018.
Em 2017, a União Europeia estendeu por cinco anos a permissão para essa substância, e a Anses “começou a revisar as autorizações de introdução no mercado na França e lançou uma avaliação comparativa das alternativas disponíveis”.
Mas, sem esperar o final do processo atualmente em andamento, “a Anses notificou a retirada das autorizações para 36 produtos à base de glifosato”, acrescentou.
Ao mesmo tempo, a agência rejeitou pedidos de autorização para quatro dos onze novos produtos com essa substância. A agência especifica que “apenas produtos à base de glifosato que atendem aos critérios de eficiência e segurança definidos a nível europeu (…) e que não podem ser substituídos satisfatoriamente” podem entrar no mercado francês.
O glifosato tem sido central na revolução agrícola que aumentou exponencialmente as culturas de cereais e oleaginosas geneticamente modificadas nos Estados Unidos, Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai.
O que é o glifosato?
Trata-se de um princípio ativo, isto é, uma molécula desenvolvida na fabricação de produtos químicos. Inicialmente, o glifosato surgiu na indústria farmacêutica e também chegou a ser usado para limpar metais. Porém, se popularizou nos herbicidas da Monsanto, que hoje pertence à Bayer.
O herbicida à base de glifosato é aplicado nas folhas de plantas daninhas, aquelas que nascem espontaneamente no meio das lavouras e prejudicam a produção agrícola. Ele bloqueia a capacidade da planta de absorver alguns nutrientes.
O glifosato também pode ser usado como dessecante. Ou seja, se o produtor quiser colher a soja e por algum motivo ela ainda estiver verde, o herbicida uniformiza a lavoura e permite antecipar a colheita.
O glifosato faz mal para a saúde?
A polêmica maior, porém, está nos possíveis efeitos que pode causar aos consumidores dos alimentos. O golpe mais certeiro contra o glifosato foi a avaliação da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2015, descrevendo o produto como um “provável causador” de câncer.
“Eles não são uma agência reguladora e são bastante conservadores. Mas bancaram essa afirmação e até hoje não voltaram atrás”, comenta Meirelles, da Fiocruz. “Houve uma contestação imensa em vários setores, inclusive entre as agências reguladoras, que sofrem grande pressão comercial.”
A agência reguladora europeia, EFSA, reavaliou o glifosato em 2016 e o considerou seguro para a saúde humana, desde que os resíduos nos alimentos sejam baixos. Também uma reunião de representantes da OMS e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), no mesmo ano, deu parecer positivo ao glifosato consumido em níveis mínimos nos alimentos.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez recentemente uma reavaliação sobre o glifosato, iniciada em 2008, e afirmou que ele “não apresenta características mutagênicas e carcinogênicas”. Estão abertas as consultas públicas sobre o glifosato até 6 de junho.
Segundo o toxicologista do Grupo de Informação e Pesquisas sobre Glifosato (Gipeg), Flavio Zambrone, os testes feitos no glifosato pelas principais agências reguladoras do mundo o consideraram seguro para a saúde humana. “É um produto de baixa toxicidade para o homem e para o meio ambiente”, afirma Zambrone.